quarta-feira, julho 30, 2003

Descontinuidade
Já lá diz o blogueiro, “muita estrada, pouca entrada”. Vou de férias, Espanha concerteza que fica sempre de caminho para todo o lado.
Não terá este blog, muito provavelmente, entradas até meados de Setembro. Só mesmo se a internet me aparecer pela frente. Até lá, muito calor, hasta!

terça-feira, julho 29, 2003

Cerimónias fúnebres
Em Portugal, as cerimónias fúnebres das pessoas iguais ás outras são de uma violência atroz. A própria concepção do evento, todos os seus cerimoniais nebulosos que quase não podiam magoar ainda mais quem está debilitado pela perda, a ganância dos agentes funerários, passando pela estética do caixão, as flores que não podem faltar, a carreta funerária de serviço, as velhas das redondezas, os comentários dentro e fora do velório, esse massacre psicológico, e a indiferença maquinal dos coveiros, todo o ritual é das coisas mais ignóbeis que se praticam em solo português, um folclore diário, cruel e ridículo que se perpetua em grande parte por culpa da igreja.
Os americanos, as habituais caricaturas do povo estúpido, têm no entanto os seus cemitérios relvados sem qualquer tipo de excesso de mármores ou terra nos sapatos. A cerimónia é algo intimista, reservada à família próxima, e a cremação é uma opção muito praticada. Em muitos países empresta-se poesia e filosofia ao evento marcadamente simbólico e sentido, e nunca ostensivo ou lugar para feira de vaidades e de lugares comuns, lugar para comportamentos ‘histéricotipados’ ou de puro voyeurismo que muito caracterizam o funeral deselegante do país de procissões, fátimas e barrancos que somos, país eternamente condenado a estas e outras entranhadas mediocridades, práticas mais ou menos sádicas, tão pobres e despercebidas que passam...

sexta-feira, julho 25, 2003

Sabor a gasolina sem chumbo 95
- S'ela é cineca você só tem qui ser também!
- Mas eu não sou assim... Nunca fui educada assim, não sei ser assim. Os outros que sejam, mas eu não sou assim!
- Poiz'é m'nha filha, mas nesta vida nois temos qui aprender a ser tudo... Tudo menos roubá e matá.
- Puxa vida, milagre! Pod'gi abastecê!

quarta-feira, julho 23, 2003

Cais
O conceito da revista Cais é provavelmente a melhor ideia de sempre. Choca-me não haver prémios Nobel para as ideias que visassem tornar mais comestível a vida diária de todos nós, assim como me ofende a indiferença mal educada da maralha quando abordada pelos vendedores da Cais, que os há cada vez mais, não sabendo eu concluir se tal explosão demográfica será positiva ou negativa, se tal indiferença será sinónimo de calos nos pés.
Sempre que posso e tenho dinheiro (infelizmente coisa rara) compro a revista à rapaziada do chapelinho amarelo que está ali e muito bem e honradamente a ganhar o dela, e ao mesmo tempo a promover ao preço da chuva os artistas que colaboram com a revista. Ou seja, tem a honorável missão de pôr a cultura na rua, na taberna, na fila de bilhetes para o pavilhão atlântico, onde quer que seja. E o mínimo que qualquer frequentador da calçada portuguesa tem a fazer é dar-lhe o euro do costume e dar graças pela revista de qualidade que passa a ter entre mãos. Por isso, quando abordado, o pacato cidadão acabado de comprar o maçozito de tabaco malboro, ou a cidadã carente acabada de comprar o seu novo wonderbra, só tinham de se explicar muito bem explicadinhos porque não compravam a revista. Apresentassem atestado médico, exibissem a carteira vazia, alegassem falta de cabelo e consequente canalização dos trocos para o tratamento, o que fosse, que fizessem prova da impossibilidade imediata de contribuirem para o projecto ou chamava-se um daqueles fiscais da emel que os atarraxaria ao chão, quais veículos mal estacionados na vida pública.

segunda-feira, julho 21, 2003

Decoração de interiores
A uma alma bem mobilada não deve faltar uma boa paixão de marca.
Obrigado canal 2
Ver "Stachka" (A greve, 1925) de Sergei Eisenstein é como assistir ao "big-bang" do cinema.
Sinal dos tempos nº 54687
Nunca como agora houve tanta procura, tanta oferta e tão pouco negócio.
Opinião sem blog #1
"Em vez de andarem por aí a bater no pai e na mãe, escrevem. É positivo, a malta solta cá para fora, toda a merda que tem lá dentro. " (autor identificado)

quarta-feira, julho 16, 2003

O robalo
Numa madrugada húmida, um homem tem um pesadelo numa cama demasiadamente seca. Começa a sufocar, engasgado com uma pastilha elástica, enquanto beija uma das mulheres dos seus sonhos. Ela retoca a maquilhagem e ao mesmo tempo tenta salvá-lo com a língua que toma a forma dum anzol mas que à distancia parece apenas uma língua molhada. Pesca um robalo e o homem, aflito, começa a acenar tentando chamar as atenções, não lhe passando uma única vez pela cabeça porque é um robalo e não uma corvina que está agora ali ao seu lado, também a estrebuchar. Passa por ali perto uma outra mulher que é especialista em homens com pesadelos e espera pacientemente que a outra comece a ter a certeza sobre o que fazer mas a ficar sem saber para onde ir. Assim acontece, tendo sido vista pela ultima vez tentando à força sincronizar o passo com uma avestruz. A especialista aproxima-se e repara divertida como a cor da cara do homem condiz com a cor do robalo que só desejava que alguém lhe fizesse respiração boca sensual de lábios vermelhos à guelra. Ela podia estar ali uma contemplativa vida inteira Chega a rir mas depois apercebe-se que parece uma louca, que facilmente pode engasgar-se, e muda de expressão. A visível alteração facial faz com que do tecto do quarto comece a cair uma grande carga de carvão em brasa. O robalo, numa aflição, larga tudo o que não trazia e volta ao seu habitat natural. Mas tal foi a pressa de fugir à saraivada que o homem fica sem 8 dentes e uma espinha atravessada na garganta. A especialista transforma-se em sardinha assada e o molho que escorre pelas goelas do homem faz acender a lâmpada dum candeeiro duma mesa de cabeceira com um parafuso a menos. A pastilha e os dentes estão no mesmo lugar. A mulher ressona ao seu lado. Por debaixo da cama há mais.

segunda-feira, julho 14, 2003

Antagonia
Não vou à bola com o feitio de Deus. Se calhar o pai dele já era assim.... Mas não há desculpa. O meu pai é do Sporting e eu nunca fui na conversa!
Hidrotupia
A água podia ser fabricada já com todos os ingredientes necessários à vida. Não haviam facas nem garfos, só copos, garrafas e pedras nos rins. Bebia-se um copo de água, ficava-se enfartado e arrotava-se a enchiladas. Às vezes dar-nos-ia azia e tomaríamos umas gotinhas de água com sabor a compensame.
Micto-Arte
Andy Warhol concebeu uma série de quadros com urina e a malta agradecida comprou-os. Reza a lenda que quando não estava com a bexiga para ali virada, telefonava a amigos e pedia-lhes que passassem pela “Factory” a dar uma mijinha. Dois cafés e complexo B eram a receita dum mijo bem amarelo que ficava melhor na tela que na retrete. O Andy era marado dos cornos mas não tinha outra alternativa.
Filosofia de Bolso
É fácil ter-se razão. Ainda mais fácil é perdê-la. Devo ter os bolsos rotos.

quinta-feira, julho 10, 2003

A idade da proeminência
A partir dos trinta anos não começamos a sentir qualquer peso da idade, antes, começamos a procurar sinais da idade. Até ali um gajo não tem idade, é simplesmente novo, alegremente sem idade, nem sequer sabe o que é isso da idade. Não procura nada que não seja o próximo engate ou com insistência novas maneiras de tanguear os porteiros das discotecas para entrar sem pagar. Depois, de um ano para o outro, apercebe-se que já não pode renovar o cartão jovem, é confrontado com o facto de que afinal já começa a ter idade, e que nas discotecas o barmen deve andar a meter-lhe ás escondidas soporíferos nos copos depois do 2º vodka . Diz-se que surge aqui a primeira crise, a dos trinta.
Felizmente sou um gajo já batido em crises. Por volta dos 30 anos, já tinha 29 crises em cima do lombo, de maneira que aquela foi apenas mais uma. Mas claro, teve um saborzinho diferente, o da descoberta, o da procura dos sinais e efeitos da idade, espécie de obsessão genética. O problema é que em mim são difíceis de encontrar esses sinais e ainda mais os efeitos, é verdade! Claro que visto de cima pareço-me cada vez mais com o Santo António mas também nunca fui de fazer parar o trânsito. Tirando aqueles detalhes fisionómicos, algumas proeminências na zona abdominal de somenos importância, não encontro nada de verdadeiramente significativo. Não ocorre em mim neste momento nenhum processo de degradação física ou intelectual visível, qualquer sintoma de senilidade mental... O que é que eu estava a falar mesmo ?... Ah, a única alteração que ocorreu em mim, foi de um momento para o outro achar que tenho as bainhas da maioria das minhas calças subidas de mais. Deixei de suportar andar com a boca das calças a dançarem-se-me nas canelas quando ando. Quando aperto o passo o efeito piora. Fui eu que cresci ? Será que ainda estou a crescer ? Não exageremos, o fenómeno é sinal da idade ou então dever-se-á antes às sucessivas lavagens que fizeram encolher o tecido e, reparo agora nestas que trago, descoser as costuras em sítios embaraçosos. A partir de agora a calça tem que roçar o chão sem lhe tocar, sem que no entanto não esconda a marca da meia quando cruzar as pernas. Confesso que ainda não dou mais valor ao interior que ao exterior duma gaja mas talvez para me redimir, passei a dar mais valor à minha roupa interior que exterior. De marca, impreterivelmente, tenho actualmente um invejável stock de meias e cuecas tipo boxer justinhas de excelente qualidade. Que melhor sinal dos trinta que este!?
Também devo dizer que, outra alteração significativa, passei a dar importância ao barulho que os sapatos fazem quando ando. É verdade, o que este gajo se lembra! Continuo com a elegante mania de só usar sapatos pretos com atacadores, mas a sola e o tacão ganharam significados completamente novos para mim. De modo que naturalmente numa próxima visita á sapataria, levarei em conta tais pormenores e pedirei à empregada que me deixe medi-los antes de ensaiar o andar em diversos tipo de solo. Se virem alguém experimentar sapatos nos canteiros das plantas, teste de som em solo arenoso, muito provavelmente serei eu. Se usar boxers Colvin Kein, então serei eu de certeza absoluta.
De resto, cabelos brancos nicles, calos nos pés nicles, divórcios nicles. Estou, como diria o Herman, “melhor que nunca” e não fui acusado de pedófilia, de cheirar mal dos pés, de não ter declarado todos os meus desastrosos negócios bolsitas no IRS e não tenho ninguém atrás de mim exigindo-me uma pensão de alimentos. Sinto-me em forma e comecei a beber um litro de água por dia no trabalho, outro sinal da idade mas também resultado das leituras fugazes que faço da men’s health, por acaso outro sinal da idade.
E por este andar, com tanto sinal mas pouco efeito, assim como desapareceu a minha urticária que julgava crónica, as minhas ligeiras rugas de expressão irão desvanecer-se porque na realidade não tenho nada que me dê dores de cabeça mas também nada que me faça rejubilar por ali além. Vivo num meio termo nirvanico, conseguindo por um lado pagar as contas triviais, água, luz, aspirinas, ir ao cinema ás segundas feiras e frequentar cadeias de fast-food, mas por outro não consigo chegar a um roadster e ter uma casa com vista para o mar nas Açoteias... Não terei desgastes nem aborrecimentos e daqui a uns aninhos, muitos aninhos lá para a frente, uma miúda do liceu irá confundir-me com o namorado com quem acabou ontem porque os seus namoros nunca resultaram com miúdos mais novos que ela, e os meus amigos esquecidos da escola primária vão “reconhecer-me” à saída duma matinée dançante e imediatamente perguntar-me-ão “Desculpe, acho que andei com o seu pai na escola”. Jamais terei umas rugas de expressão (idade, velhice portanto) como o Jack Nicholson. Que idade terá o gajo... Já terá passado dos trinta ?

terça-feira, julho 08, 2003

Switch
Boa tarde. Boa tarde. Queria algumas gramas de lenha. Embalada em papel manteiga ou dentro dum tupperware, partida em bocadinhos ? Era para me queimar, como acha que será melhor ? Não me pergunte a mim, sou uma pessoa muito indecisa, veja que quando entrou, estava indeciso entre atende-lo ou não. Não sou um cliente como outro qualquer ? Já piscou os olhos mais de cem vezes desde que aqui entrou. Foi essa a razão porque me atendeu, por abrir e fechar muitas vezes os olhos ? Vi que você tem o perfil ou melhor dizendo, as medidas ideais para um pequeno trabalho que gostava de ser eu a fazer mas que não tenho coragem. Tenho já trabalho que chegue, o que queria mesmo era lenha, pode ser daquela ás bolinhas cor de rosa, mas embrulhada em papel manteiga sem sal. Já reparou que tem exactamente as mesmas medidas que eu ? Apenas reparei na verruga que sai dessa sua sobrancelha mal aparada. É de estimação. Óptimo, são as de melhor qualidade. Leve a lenha que é por conta da casa, mas primeiro faça o que lhe peço. Estou tão curioso que subitamente surgiu em mim uma vontade enorme de me esfregar todo com óleo de amêndoas doces. É simples, terá apenas de se colocar na minha pele. Pouco tentador. Besunto-me se tal for sua exigência. Por lenha faço o que for preciso nem que para isso não saiba que o estou a fazer. Não demora mais que vários minutos. E o que terei de fazer depois ? Não deixar que eu me assalte.
Choose
Entre o chicote e a chicotada, há quem opte por sorver os pequenos brilhos do céu a horas impróprias para consumo.
Espelho
Num ginásio de musculação, o aparelho mais importante é o espelho.

segunda-feira, julho 07, 2003

Festival de festivais
Acho que há um engano qualquer na denominação do festival Hype @ Meco. As tendas estão instalados num pinhal, muito antes da Lagoa da Albufeira, mais distantes ainda de Alfarim, e só depois temos então o longínquo Meco, ou seja, só a quilómetros e quilómetros de distancia, muito para lá de importantes localidades, temos a Aldeia que dá nome ao festival. O mais acertado seria aquele evento ao ar frio chamar-se Hype @ Lagoa ou Hype @ Pinhal, no máximo Hype @ Alfarim, ou Hype Cold @ir Festival, Exorbitant Entr@nce Price Hype Festival... Compreende-se que dado o leque de escolhas, Meco seja mais cool e comercializável. Na realidade não interessa o nome do local antes os nomes que tocam lá no pinhal. Este ano, para quem como eu já vira Moby no pavilhão atlântico, dar 7 mocas para depois andar lá a pastar de tenda em tenda era doloroso. Não pus lá os pés obviamente. Bjork e Dhzian & Kamien, que eram o que valia a pena ver, actuavam à mesma hora. O resto era “um contigente” residual de DJ’s e grupos que as rádios e jornais associados ao evento fizeram o favor de nos dar a conhecer como grandes fenómenos que toda a gente parecia conhecer menos nós.
Já me disseram entretanto que a actuação simultânea dos artistas que gostaria de ver acabou por não acontecer. Mas os atrasos e desencontros já me tinham ficado na memória do festival anterior. Assim como aquela sensação de que só mesmo pastilhado ou com os copos poderia ter extraído o máximo do festival que de maneira nenhuma é feito para espectadores cirúrgicos como eu.
Mais doloroso ainda neste e noutros festivais é o bilhete não dar direito a sequer uma bejecazita. Havia de ser tipo consumo mínimo. Ou faziam sorteios nos longos intervalos entre os concertos do palco principal, ao invés de passarem insistentemente o fastidioso spot rádio do festival. Para quê publicidade àquela hora, se quem lá estava já lá estava ?! Sorteavam bejecas e torresmos entre a malta. Por exemplo, bilhetes com o nº terminado em 02 podiam ir levantar uma malga de sopinha de caldo verde na roulote junto à tenda trance. Terminações 18 podiam ir levantar uma mini na tabanca do “Amo-te Meco”, e por aí fora. Mas não. Mais que doloroso, é escandaloso não só pagar as 7 mocas como ainda andar o resto da noite com areia nos sapatos enquanto nas barracas dos comes & bebes nos pedem quantias exorbitantes por uma febra, um cachorro ou um vodkazito mal parido. Quando lá estive há um ano atrás, lembro-me que gastei lá dentro em mantimentos o equivalente ao preço do bilhete cá fora! Um gajo não se esquece destas coisas!
Mas dada a afluência, 20 mil pessoas, mais 5 mil que o ano passado, para quê mudar ? Crise o tanas. A malta paga o que pedirem, vai-se a todas. Parece que se criou uma espécie de festivalodependência militante. Não sei se a culpa não será dos comunistas, se isto não é toda uma geração que desde pequenina, pela mão dos pais, começou a frequentar o festival/festa do Avante e agora que cresceu e não tem partido, não quer outra coisa que não seja estar de copo de plástico na mão aos pulos em frente a um palco. Ao longo do Verão é vê-los deixarem as terrinhas, as casas dos pais e os apartamentos da subúrbia, rumo sabe-se lá onde, a quantas horas de bicha de distancia, em que arrabaldes, no meio do nada ou do pó, aos festivais que forem preciso, que não se é jovem não se é nada se assim não for.
Pró ano logo se vê.
Teatro de fogo
Para quem está farto de ver nas passagens de ano e outras comemorações, fogo de artíficio à borla, o festival da Inatel é uma excelente oportunidade de pagar para ver.

sexta-feira, julho 04, 2003

Publicidade gratuita #2
Para quem vai a caminho do famoso e muito ‘in’ Azeitão, vindo da mítica Coina, encontrará, quilómetros antes, os Brejos, com seu magnifico cruzamento, seus stands de automóveis á beira da estrada e o seu característico cheiro a frango assado. Também à beira da estrada, uns toldos verdes anunciam o self-service Brejoense, local equipado com portas de abrir eléctricas e onde se pode comer o bitoque mais barato do país. É verdade. Carne, ovo, batata frita e um acompanhamento à escolha, que pode ser uma das variadas saladas ou arrozes à disposição, petisco bem servido e a saber bem. É a melhor maneira que consigo imaginar para empregar quinhentos paus. São coisas destas que ainda me fazem ter alguma esperança por dias melhores.
Vidas alternativas
“Tenho um nome tão feminino que quase tenho vergonha de o pronunciar... Lucinda!... Será que mesmo assim poderei ser lésbica ?”
in, correio sentimental de programa de rádio concebido para a causa, primeira quarta feira de cada mês, 21-22, Voxx, 91.6
Sinal do tempos nº 4526
Maio e Junho são agora mais quentes mas ainda assim todos os meses surgem cada vez mais loucos escondidos atrás das secretárias.

Sinal dos tempos nº 5624
Os blogues são agora uma verdadeira epidemia mas ainda assim a vida real triunfa: Catherine Deneuve ultrapassa Pipi no top dos quem é quem.
Anedota de Elite #4
“Um homenzinho senta-se no lugar habitual de um restaurante. Pega na ementa e nota algo de diferente na parede à sua frente. Pergunta ao empregado:
- Desculpe, não costumava estar naquela parede um grande par de cornos ?
- Não, estava era um grande espelho.”
in, anedota divulgada em programa de rádio concebido para a causa, todas as terças feiras, 21-22, Voxx, 91.6
Ícone 6.0
Marisa Cruz, 89-60-90
Publicidad gratuita #1
Apesar de irrespiráveis, os quitamachas Romar conseguem sacar totalmente as manchas, em especial aquelas do tipo pingue, sem necessidade de esfregar e sem deixar um cerco. Há venda nas mejores lojas dos trezentos.

quarta-feira, julho 02, 2003

Ricos: Perigo de Morte
Indiferente ao caos urbanos, um velhote estilo sem abrigo deslocou-se calmamente até á faixa central para peões, e em pleno Largo do Rato, deitou-se por cima do gradeamento de uma saída de ar do metropolitano. Lá se aninhou, fechou os olhos, parecendo dormitar satisfeito, a grande distancia de tudo. Lamentei não ter uma máquina de fotografar à mão (as milhares de fotografias que não tiramos por não termos uma máquina de fotografar sempre à mão). O sono do velhote foi curto ou então foi interrompido por acção humana directa. Porque buzina, fumos de escape, barulhos dos martelos hidráulicos da obra ali perto, nada o faria despertar daquele encantamento. Passada uma hora, quando lá voltei, já não existia aquele contraste que daria cor à fotografia.
Passados uns dias, voltei a encontrar o mesmo velhote, o mesmo estilo. À saída do estacionamento, tive de travar e desviar o carro para não atropelá-lo. A mesma paz, um ressonar invejável e tranquilo, desta vez em plena faixa de rodagem... Cheguei á conclusão que o homenzito certamente não teria problemas na coluna. É sabido que dormir no chão só faz bem. E depois dei por mim a pensar o quão perigoso pode ser, ser-se rico. Lembrei-me daquele caso de uns amigos afastados, recém casados. Gente abastada, proprietária milionária daqueles barcos que atestados levam mais de mil litros de gasóleo e custam mais de mil contos por ano manter estacionados na Marina de Vila Moura. Numa das saídas em família para o mar, depois dum mergulho, o rapaz recém marido voltava para o barco. Momento em que o pai da rapariga ligou inadvertidamente o motor do barco. O rapaz foi apanhado pelas hélices e ficou sem pernas. Isto é extremamente dramático e verídico (caso raro aqui no blog) e não me vou alongar mais.
Nem eu nem aquele homenzito jamais sofreremos semelhante acidente. Jamais. E porquê toda esta certeza ? Simplesmente porque não somos ricos. Nunca morreremos ao volante dum carro com 300 cavalos, numa queda de avião nos mares da Polinésia ou picados por uma serpente venenosa da Patagónia. Poderemos morrer de tédio é certo, sermos atropelados enquanto batemos uma sorna , mas não teremos acidentes ou morter profundamente dramáticas e aflitivas, coisas que parecem perseguir os ricos. Ser rico é perigoso. Se fosse rico pensava duas vezes antes de me hospedar no Ritz de Paris e me meter dentro de um Mercedes conduzido por chauffeur à noite. Se pensasse só uma vez, fazia como o cromo do Michael Jackson. Pensam que ele não está bem ciente do perigo que corre ? Faz bem em proteger-se atrás daquela mascara, viver em ambientes os mais acéticos possível, rodear-se de um exercito de guarda costas, videntes e médicos. Enquanto os pobres são habituados desde pequeninos a conviver com toda uma vasta panóplia de vírus imundos e doenças reles ao ponto de depois de contra elas ganharem imunidades inexplicáveis pela ciência, os ricos estão muito mais expostos a síndromas selectivos e se vêem sangue desmaiam com muita facilidade. Eu sei que os hospitais civis estão a abarrotar pelas costuras de pobres. Mas 90% dos casos é hipocondria descarada, mal próprio de gente que não tem nada importante com que se queixar.
Lembro-me de outro caso raro mas que só vem dar razão a mim e ao Michael. Um tal sucateiro, história de vida que há tempos me contaram, fizera fortuna a juntar e vender ferro velho. Não satisfeito com o ainda pouco que dizia ter a todos, começa a entrar em jogadas, que parece as há muito por aí, de comprar novo a entidades muito respeitáveis como se de ferro velho se tratasse e depois vender como estava, novo em folha a outras entidades também respeitáveis. Os pormenores desta traquitana contaram-me mas não reti que sou gajo nada dado a jogadas. Mas sei que o raio do sucateiro lá conseguiu amealhar fortuna de milhões, leram bem, milhões de contos (é muito euro caramba!). E onde pensam que vive hoje o regalado sucateiro, na Quinta da Marinha, do Peru, Aroeira, apartamento nas Amoreiras ou na Expo, não ? Foi a custo que ainda há pouco tempo tiveram de o expropriar pelas vias legais da casa abarracada onde vivia com a mulher, para ali construírem uma estrada qualquer. Dizem que não se pode estar ao pé do animal mais de um minuto que o gajo tresanda a cavalo que não é lavado há mais de 6 meses que se farta. A mulher é daquelas que têm bicharocos pequeninos sem nome a viverem há muitos anos pacificamente debaixo das unhacas grandes daqueles pés gretados rodeados de calos por todos os lados. Entre bicharocos e paparazzis, os primeiros não serão mais inofensivos ? Não me admirava que vivessem felizes, sucateiros e bichos das unhas, ambos com ligeiros problemas olfactivos, algures numa daquelas casinhas da Quinta do Conde ou em Fernão Ferro. F-e-l-i-z-e-s, leia-se bem. Aquela gente poupada alguma vez vai morrer vitima duma operação plástica mal sucedida ?! De longe, o único plástico que alguma vez lhes fará mal é se alguma vez comerem gelatina Alsa num tupperware desses novos coloridos em vez de aproveitarem a mesma taça de barro onde comem os cães. Alguma vez morrerão vitimas de um acidente quando o helicóptero privado em que seguiam aterrava no telhado da sua penthouse no Mónaco ? Vive-se numa casa térrea com fossa a céu aberto e anda-se a pé que só faz bem.
Eu, se fosse rico, pensava seriamente em mudar de vida. Há tantos exemplos que poderia seguir. Mais sofisticados e dispendiosos na versão Michael, mais saudáveis e económicos na versão sucata. E o dinheiro, o que fazer a tanto dinheiro ? Ora, ora, recompensar monetariamente gajos como eu, aqueles que os fizeram ver a luz ao fundo da casa da Linha com vista para o mar. Deixá-los desgraçarem-se já que disso parecem estar tão desejosos. Tomem lá, sacrifiquem-se, espatifem-se todos ao volante dos Ferraris, naufraguem de barco á volta do mundo, morram de falta de ar numa dessas viagens de turismo espacial, tenham ataques cardíacos nos braços de Top Models internacionais!

De volta ao Blogger

Depois de uma passagem pelo Weblog, o espécie volta ao Blogger.