sexta-feira, novembro 28, 2003

Introdução à dramática vida do Zé (com fim)

Zé Gaspar vive num prédio degradado numa zona também dos subúrbios. O sentido de responsabilidade e vergonha, incutidos pela educação provinciana dos pais sempre sob a supervisão dos céus e a benção do pároco local, fez com que desde há cinco meses seja o único morador a pagar o condomínio, para além do vizinho indiano do rés do chão, actual administrador. Quantia global manifestamente suficiente para manter em pagamento a luz de passagem da escada, insuficiente para reparar o elevador, há já algum tempo condenado sem reparação pela ultima visita dum técnico que ainda hoje está a arder. É certo que os sacos do hipermercado a carregar para o 7º andar são cada vez em menor numero e mais leves, mas os degraus parecem eles próprios efectivamente mais altos e pesados, da idade. E Zé tem agora, desde o início dum ano passado à meia noite num engarrafamento provocado pela morte duma bateria, essa recompensa e o estimulo acrescidos, de ao cimo das escadas avistar a imagem irreconhecível, cada vez mais, da sua mulher, que o vem receber, a perna esquerda a rebentar pelas costuras de tanta variz, de tanta escada subida e descida, no meio do lixo que se acumula nesta que nas outras era trabalho sempre elogiado que fazia com afinco, a limpeza.
A Zé valem-lhe as breves paragens que faz quando passa pelo 5º andar esquerdo, quando bate á porta, naqueles dias incertos, aquele bater do costume, e é recebido pela vizinha que o trata por “amorzinho” e que com tanta habilidade lhe desvia a atenção das pernas em estado semelhante ou pior que a da mulher. Mas respira melhor àquela altura, vá-se lá saber porquê, ela mal casada assumida parece adivinhar-lhe a visita, e ao contrário do que o marido diz depois da 5ª imperial quantas vezes paga pelo amigo Zé, ela apresenta-se sempre lavada, com cheiro a sabão macaco debaixo do eterno pijama amarelo que, mas porquê, teima em não desbotar, e contribui para aumentar o rol das coisas que os homens têm que nunca serão bem compreendidas. Não são mais que cinco ou 10 minutos, que reforçam a pena e o misto sentimento de culpa que a mulher de Zé sente quando abre a porta e o vê chegar cansado uns dias, incertos, mais que outros, naquele estado.
Se houvesse por aí uma vida em conta, ele não hesitaria.
Fim.

quinta-feira, novembro 27, 2003

Choque térmico

Numa ainda madrugada muito fria, uma mulher qualquer bela passa um sinal recentemente vermelho com o seu recente Mercedes. Leva os ombros á mostra e só ela sabe quando os destapou. Agasalho-me.

quarta-feira, novembro 26, 2003

Neste momento...

Três mil mulheres colombianas dirigem-se em autocarros, sem escolta policial ou militar, até Putumayo (Puerto Caicedo), epicentro da guerra civil, perigosa zona onde se verifica maior actividade por parte da guerrilha na Colombia. Contra a guerra e a violência sobre as mulheres.

terça-feira, novembro 25, 2003

Geração dah!!!

Visto a minha gabardina até aos pés, encho-lhe os bolsos com rebuçados, meias pretas até aos joelhos e os sapatos de executivo impecavelmente engraxados. Acerto o relógio da sala e saio de casa na direcção do gradeamento da escola secundária mais próxima. As minhas pistas apontam naquele sentido. Para efectuar este trabalho de campo, tenho que passar o mais despercebido possível, enquadrar-me no meio ambiente escolar. Não posso ser apenas um encarregado de educação qualquer que aparece por ali armado em tótó a fazer perguntas. Não posso correr o risco de aparecer uma auxiliar de educação interrogando-me sobre o que estou a fazer, ou um professor dando-me lições acerca da inutilidade da minha pesquisa: saber o verdadeiro significado, buscar a etimologia da genial e enigmática expressão ‘dah!’.
Não tarda e surgem junto a mim duas teenagers. Não vou perder tempo a descrevê-las, mas uma faz-me lembrar a Britney Spears e a outra a Doutora Helen da longínqua série “Espaço 1999”. Suponho que são normais. Apesar dos avisos nas grades, passo-lhes guloseimas que elas devoram com aquele prazer próprio de quem se está borrifando para as dietas. Rapidamente começam a desbobinar tudo. A expressão “Dah!” há cerca de um ano que circula nas escolas. “Pelo menos na escola de cima também!” Muito antes, portanto, de ter sido utilizada massivamente na publicidade duma conhecida operadora de telemóveis. Não me sabem dizer os nomes dos trisavôs, e tal como acontece com as anedotas, não sabem dizer quem foi o autor, quem pela primeira vez terá proferido “Dah!”. Um momento de divina criatividade, ou vocalização espontânea... Explicam-me que recorrem vulgarmente á expressão sempre que alguém se comporta ou tem uma observação própria dum atrasado mental, nomeadamente colegas do sexo masculino, que naquelas idades é muito vulgar comportarem-se como tal. O “dah!” é acompanhado dum movimento oscilante da mão junto ao peito ou na testa, simulando um descontrolo físico ou ‘tapadice’ que muitas vezes caracteriza os “atrasadinhos”.
Por exemplo, há bocado o Migui disse-me:
- Já vistes as mamocas da Rita todas para cima ?! Não gostavas de ter umas assim ?
- Dah!!...
(lá está o gesto da mão) Ela usa ‘wonderbra’!!!” (a ultima silaba arrasta-se, tal como o ‘dah!!’)
Por toda a parte ouvem-se toques polifónicos. Ting-tong-daing-telim-ding-beng... e por aí fora.

segunda-feira, novembro 24, 2003

Dentro do contexto

"Não há nada que dê mais vontade de rir que um português a chorar. E o inverso também é verdadeiro: um português a rir-se dá vontade de chorar.", Ernesto Sampaio, in Diário de Lisboa, 6-2-1987)

sexta-feira, novembro 21, 2003

Frame #1

alien 4

*Anedota de Elite #4 (Estamos obcecados com a M.F.L.)

"Manuela Ferreira Leite está no seu luxuoso gabinete e diz para um secretário:
- Vou atirar esta nota de 100€ pela janela e fazer um português feliz.
- Srª Ministra não acha preferível atirar duas de 50€ e fazer dois portugueses felizes?
Entretanto um escriturário ouve a conversa e diz:
- Não faça isso Srª Ministra. Atire antes 20 notas de 5€ e faça 20 portugueses felizes!
Ouvindo isto tudo, sugere a senhora das limpezas:
- Porque é que não se atira a senhora da janela e faz dez milhões de portugueses felizes?"
*a circular na net.

Ligações inofensivas

Homens, mulheres e predadores.
Estadionite - a nova doença atinge (também) a China.


quinta-feira, novembro 20, 2003

Idiotas

De temps-en-temps devíamos parar para pensar, reflectir seriamente sobre o nosso estado, se não estamos a ficar assim. Procurar esses sinais mais ou menos evidentes e tentar corrigir, inverter a tendência. É cada vez mais fácil tornarmo-nos nuns, num processo gradual e invísivel que nos passa despercebido, assim como passa aos outros porque estão como nós. Deveria ser instituído um dia nacional contra a idiotia. Pelo menos, uma vez por ano...

quarta-feira, novembro 19, 2003

Prêt-a-porter

Há pessoas vestidas que mesmo que lhes aparecesse pela frente a felicidade toda despida, nunca saberiam o que fazer com ela.

terça-feira, novembro 18, 2003

Inoculação

Pior que as gripes, aproxima-se perigosamente a época das greves. Já me preparei para não fazer nenhuma! Mas que fique bem claro, não sou um fura-greves.
Estão a ver aquele tipo que trepa pelo portão fechado a cadeado, querendo ir cumprir o seu dever laboral e contribuir com a sua microscópica parte para o futuro e progresso da nossa grandiosa civilização? Sou eu. Sou eu, contra estas greves, salto o portão para mais um dia de trabalho que é para isso que cá ando, que cá me puseram, um dia atrás do outro, eu, sozinho se for preciso, até vir o fim da paciência ou o fim do mês, que felizmente chega sempre primeiro. Sou o único a furar a greve ? Sim sou o único, mas isto não é greve que furo, digo e volto a dizer que não sou a vergonha da classe. Se acham que sim, que se lixe, não percebem nada disto! Greves para quê ?! Eu não faço greves. A greve é coisa do século ante-passado e provoca-me alergia agora nestes Invernos do Século XXI. As greves agora são peças de colecção para os sindicato e um alívio para as finanças públicas (umas grevezinhas agora davam jeito não era senhora ministra das finanças e restante séquito?). O que não se faz hoje, faz-se amanhã, o que não se fez nunca, far-se-á algum dia. Muito litro de gasóleo se vai poupar, muita electricidade, telefone e água do público e de algum privado, muito dia de ordenado. Mais uma bolha de oxigénio para o déficit asfixiado.
Ninguém faz greve, todos brincam ás greves. Eu não gosto desta brincadeira, não brinco. Todas a gente sabe que quem manda nisto tudo são os senhores Sony, Microsoft, Samsung, Hollywood, Benfica, Honda, (Sr. Honda como está ? Há muito tempo que não lhe compro um carrinho! Mas a culpa não é minha sabe...) e outros ou ninguém sabe ? Saibam então que esses é que são os nossos verdadeiros patrões, e são mais que as mães, e os Durões e Bagões todos juntos. Se pensam que lixam este par de enfeites desenganem-se, que a culpa deles vale alguma coisa mas não o suficiente para valer os nossos dias de ordenado perdido.
A greve deste século é a greve ao consumo e não ao trabalho. Que sofrimento, caraças, já se imaginaram passar um mês sem comprar nada de verdadeiramente inútil ?... Nem quero pensar!.. Mas o que é uma greve sem algum sacrifício ? Destas é que não. São fáceis de fazer, são uma brincadeira. Não se vai trabalhar e já está. No dia seguinte trabalha-se outra vez, e tudo continua a estar pior, todos julgarão estar de mãos lavadas.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Agora vais-me dizer o que vês nesta imagem #1

- Se eu não lhe acertar na testa, acerta-lhe tu nos respectivos testículos!Vejo o Harrison Ford armado com um pistola que parece verdadeira, apontando-a para alguém. E por detrás dele, o mais novo Josh qualquer coisa, na mesma pose.
De geração em geração. Um gajo com uma pistola na mão parece logo outra coisa.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Amizade, uma versão
Num destes domingos de Outono, Domingo bonito de sol, daqueles que vingam um Sábado chuvoso, que nos resgatam de um fim de semana de sofá, quando passeava calmamente entre a lama, entre a gritaria dos feirantes, apertado com os encontrões das mulheres febris de mãos cheias de slips e sutiens mais baratos à meia-duzia, fui abordado por um indivíduo de etnia cigana (como gosto deste equilibrismo que faço para não dizer simplesmente “um cigano”) que se propunha vender-me um Breitling por 10 euros. Ora, “um Breitling é um relógio de pulso que custa nas ourivesarias, o mais barato, á volta de 1000 euros”, pensei eu. “Posso ver?”. E pude ver-me introduzido, para grande desilusão minha, não no excitante universo da receptação como esperava, antes no inútil universo das réplicas perfeitas dos relógios de luxo onde “só os ponteiros grandes funcionam e os outros são para enfeitar”. “Mas oh senhor, quem o ver não vai reparar nisso.” E mostrou-me outras marcas e modelos, mais caros, com maior requinte na imitação, mas os mesmos ponteiros pequenos, os cronómetros, os indicadores dos dias, da reserva de marcha, parados... “Os seus amigos vão pensar que é verdadeiro!”.

quinta-feira, novembro 13, 2003

Sinal dos tempos #2732

Adeus "Mundo Encantado dos Brinquedos do Continente"! Bem vindos ao "Palácio Encantado..." Quatro paredes sempre são mais seguras, menos turbulentas que o "mundo". Um Natal mais aristocrata portanto.

quarta-feira, novembro 12, 2003

Lojas do chinês: o meu veredicto
Não tenho o espirito activista que norteia as associações que aguerridamente defendem os direitos dos consumidores. A própria palavra “consumidor” assusta-me e é vista por mim mais como uma maldição do que como esse adjectivo que afinal de forma implacável traduz a nossa condição por estes dias, aquilo que todos somos, cada vez mais, meros consumidores, desde afectos aos últimos modelos da swatch.
Defender o “consumidor” cheira a defender o “consumismo” e por isso penso que a questão deve ser antes atacada que defendida, atacando-se portanto quem fomenta o consumismo ao desbarato.
Assumindo no entanto esta realidade incontornável, a de que somos todos, e cada vez mais, antes resignados consumidores que cidadãos alertados, decidi fazer um vasto estudo tipicamente ‘consumista’ acerca das “Lojas dos Trezentos”, essas instituições respeitadíssimas, que me habituei a frequentar sempre que tinha que fazer tempo antes duma ida ao dentista ou quando tinha que comprar prendas de natal para os colegas.
É com algum desalento que tenho vindo a constatar o desaparecimento gradual deste tipo de lojas que assumiam verdadeiramente o seu preço e vocação no próprio nome. Assumiam uma honestidade e um comunismo nos preços únicos, uma excelente relação preço ridículo / qualidade dúbia que a todos tranquilizava, quando se sabia que entre lojas, sendo sempre o mesmo preço, não haveriam grandes discrepâncias, ou seja, dificilmente as pessoas se sentiriam ludibriadas até porque nem sequer se davam ao trabalho de comparar preços.
As coisas têm vido a alterar-se, a começar pelo próprios nomes das lojas, cada vez mais pretensiosos, pelos produtos exibidos nas suas prateleiras, cada vez mais inacessíveis ao consumidor teso comum, pela sensação de insegurança e desconfiança que transmitem ao consumidor tal a variedade afinal de preços.
Quando os chineses viram o Mc Donalds e outros similares ameaçarem a sua multiplicação na área da restauração, decidiram arrumar os wooks e deslocar parte do seu core business para a versão chinesa das “lojas dos trezentos”. Surgiram assim as famosas “lojas dos chinês”, que de imediato começaram a proliferar um pouco por toda a cidade, trazendo com elas uma vasta panóplia de produtos típicos da barata mão de obra chinesa e que rapidamente substituíram os bibelots típicos da velha pechincha portuguesa.
Ainda assim, algo que as lojas dos chineses trouxeram de bom foi a assumida concorrência entre chineses, provavelmente entre continentais e taiwaneses. Daí, um bom consumidor de artigos supérfluos como o são 94,5% dos que este tipo de loja oferece, tem que estar atento ás oscilações dos preços dum mesmo produto entre lojas de diferentes chineses, oscilações essas que em certos casos chegam a ser escandalosas.
No sentido de concretizar o meu estudo, iniciei uma série de visitas sempre a dias e horas diferentes a 4 (quatro) “A lojas do chinês” ao calhas. E a seguir, seguem as conclusões do meu estudo, as minhas compras na loja do chinês de Campo de Ourique, que em boa hora incluí neste estudo, que é indubitavelmente a minha “ESCOLHA ACELTADA”, superando todas as outras lojas em quase todos os domínios, variedade, arrumação, asseio, sotaque e, nomeadamente, quanto ao preço. Entre parêntesis acrescento a cada item o preço médio verificado nas outras três lojas do chinês.

As minhas compras na “Loja do Chinês” – delegação Campo de Ourique

- 1 sofisticado porta-chaves / cadeado em prateado com mecanismo incorporado de abertura através de uma combinação de 3 algarismos (999 combinações possíveis), em metal especial e inviolável, pelo invejável preço de 2€ (não havia à venda noutra loja)
- 1 ultra-resistente barra de torção (equipamento de musculação), com molas helicoidais em aço inoxidável, tratamento anti-ferrugem e pegas em borracha para máxima aderência e conforto, por apenas 8€ (9€)
- 1 termómetro de alta precisão e de dupla graduação em graus centigrados e farenheit, em mercúrio vermelho e puro, com base em madeira natural e adaptador para prego de parede, por apenas 1€ (2€)
- 1 pack de dois fabulosos baralhos de cartas tipo ‘magic’ mas com soberbas ilustrações coloridas e reflectoras, oriundas do universo manga japonês por apenas 4€. (5€)
- 1 hipnotizante imagem de nosso senhor jesus cristo com um coração brilhante nas mãos, ladeado por nossa senhora com a mesma clonada coisa nas mãos, imagem emoldurada numa requintada imitação em ouro, com efeitos especiais de luz e movimento psicadélicos, funcionando a electricidade e com 1 ano de garantia, pelo milagroso preço de 12,5€ (16,75€)
- Estive tentado mas não comprei, uma bola de borracha anti-stress com a forma de um seio feminino (peça de invulgar requinte garanto-vos, que ficaria sempre bem à mão, dentro da gaveta da secretária).

Como se pode verificar, estas compras, efectuadas na “Escolha Aceltada”, num total de 27,5€, resultaram numa economia de 7,25€, o que me deixou, e deixaria quem quer que fosse, histérico de alegria.
Como não quero estar a ser injusto para com as outras lojas do chinês, onde apesar de incógnito teso do costume fui sempre bem recebido com todos os ‘éles’, apresento agora os pontos fortes de cada uma, sugerindo aos ávidos consumidores que se dirijam as mesmas, caso estejam especificamente interessados nos produtos em apreço.
- Loja do chinês do Rato (produtos kitsh, pop-art, limpeza e menage)
- Loja do chinês do Camões (produtos de papelaria, doçaria e carteiras de senhora)
- Loja do chinês de Alvalade (chinezices genéricas e ferramentas e bricolage)
- Loja do chinês de Campo de Ourique (gadjets, relojoaria e tudo o mais)

segunda-feira, novembro 10, 2003

Chico-Espertismo ligado a si
A PT foi condenada pelo Supremo Tribunal de Justiça a devolver quantias ilegalmente cobradas aos (todos) seus clientes durante o ano de 1999. No mundo perfeito dos administradores e accionistas da PT, não existiam nem concorrência, nem associações de defesa dos consumidores e muito menos tribunais a dar-lhes razão. Mas paciência... Felizmente, como não guardaram as facturas dos seus consumidores referentes àquele ano, terão de ser os próprios interessados a apresentá-las se quiserem reaver o SEU dinheiro ilegalmente surripiado. Felizmente, ainda, para eles, em boa hora tiveram a esplendida ideia de devolver aos consumidores lesados e com as facturas religiosamente guardadas, não o dinheiro como moralmente deviam, antes o equivalente em crédito para aquisição futura de serviços (chamadas) ou produtos (telefones...) da PT. Até aqui, tudo mal. É visível a má fé da PT, o cinismo com que se sujeitou á sentença do mundo (ainda) real e como a está a executar, muito pouco voluntariamente, quando diz não ter guardadas as facturas dos consumidores, sabendo toda a gente que tais facturas não serão mais que registos informáticos dos quais qualquer empresa de telecomunicações daquela envergadura e de bom senso teria feito um back-up. O mais certo são esses registos existirem sim senhor, algures num disco rígido qualquer. Mas no mundo perfeito daquela empresa, não existem, hipócritamente, convém que não existam.
Mas tudo pode piorar ainda mais quando na televisão vemos um representante desse mundo perfeito, um administrador da PT, de carne e osso e gel no cabelo, porta voz da empresa, explicando, com a candura que só os grandes cara de pau conseguem ter, as inexplicáveis regras para quem quiser jogar o jogo do 'Onde pára o meu dinheiro?'.
Acho que já estamos todos habituados a suportar o chico-espertismo barato do costume. Já nos habituamos a ver políticos, areeiros, construtores civis, taxistas, nem todos e outros que não estes bem portugueses, exercerem com mestria esse autêntico desporto nacional. Muitas vezes mero aquecimento para a verdadeira actividade desportiva por excelência, a corrupção, que por acaso não virá agora ao caso. Mas quando o chico-espertismo chega-nos de onde menos se esperava, de uma empresa que quase símbolo nacional que é, deveria ser e dar exemplo de correcção e boa fé, empresa com a qual temos um vinculo contratual, a coisa pia mais fino. Na sexta feira á noite, quando soube de mais esta pérola da gestão de empresas 'made in portugal', fiquei instantaneamente desconfortável e contaminado... A PT estava 'ligada a mim', eu ligado ao chico-espertismo... Constatei que naturalmente as minhas facturas do telefone de 1999 já há muito que tinham sido recicladas. Comecei a aperceber-me que contribuía com a minha cota-parte para o ordenado recebido por aquele rapaz administrador, que de algum modo contribuía para todo aquele gel que lhe empastelava o cabelo. E ao fazê-lo estava a contribuir e a concordar com o perpetuar do chico-espertismo empresarial nacional... Não adiantava mudar de posição no sofá, não adiantava mudar de canal para não ouvir mais o gajo do gel. Adiantava sim mudar de operador telefónico, adianta mudar para a concorrência. Neste momento estarei já a pagar, não o gel, antes talvez o tratamento capilar a outro senhor administrador qualquer (não se consegue evitá-los), que isto nas telecomunicações em Portugal, ser cliente da PT, ou ser administrador da concorrência, deve causar muita dor de cabeça, muito stress e consequente queda de cabelo.

sexta-feira, novembro 07, 2003

- É só carregar neste botão e transformo-me num 'serial porno-photographer'!One minute post
"One Hour Photo" ("Camera Indiscreta", de Mark Romanek, 2002, em DVD) é mais um grande filme daqueles talvez demasiadamente discretos para o gosto do público em geral, apesar de contar com o popular e versátil Robin Williams, em mais uma grande interpretação. São filmes assim que me fazem (ainda) acreditar no cinema 'made in Hollywood', filmados sem grande aparato, sem as habituais concessões à disciplina comercial dos grandes estúdios.
É uma das mais bem contadas histórias de suspense e medo dos ultímos anos. O tipo de história que faria as delícias de Hitchcock.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Singelas contribuições para o meu daltónico auto-conhecimento
Terei descoberto um surpreendente padrão no meu irregular consumo de revistas. Já não bastava ter chegado à conclusão que afinal orientava-me muito mais pelos gostos da maioria do que aquilo que julgava, e agora sinto-me como um chimpanzé a fazer um teste de Pavlov... Vi nas bancas a Maxmen (ex Maxim, ex Super Maxim) e senti logo o impulso de a comprar... Autêntico reflexo condicionado, comprei-a.
Tenho em casa, guardadas naquela pilha de revistas que são para guardar, os números anteriores das Maxmens compradas e que pretendo preservar para a posterioridade. Foi naquela molhada que descobri que, pondo de parte as revistas que traziam na capa a Mónica Belushi e a Denise Richards, comprei todas aquelas que prometiam mais fotos duma qualquer loira seminua no seu interior! Sendo consumidor mais ou menos regular da revista, falhei no entanto os números que, agora concluo, traziam na capa fotos de morenas ou ruivas... Se na capa vinha uma loira, foi comprada de certezinha absoluta (tirando a que trazia na capa a Alexandra Fernandes, pouco apelativa).
Confesso que nunca julguei que teria uma preferência assim tão evidente... Sempre detectei beleza em todo o corpo sobejamente feminino, independentemente da cor do cabelo, da pele, do batôn ou da altura dos sapatos de salto alto. Longe de mim recusar liminarmente qualquer tipo de contacto explicitamente mais estreito com não loiras, avesso a superstições que sou, e nunca me pareceu lógico fazer qualquer tipo de discriminações generalistas entre loiras e morenas. Há morenas feias e bonitas, assim como há loiras e ruivas e por aí fora. O que é feio e bonito é naturalmente relativo a cada apreciador que por sua vez não tem nem loira nem morena, antes sempre cinzenta, aquela parte do cérebro onde se registam as suas preferências e referências volumétricas.
Mas perante aquelas provas de compra, assumo a minha involuntária preferência: Este gajo prefere as loiras sim senhor, seminuas!... E todo o restante universo feminino, bem vestido ou bem despido, consoante... A beleza agasalha-se, esconde-se em lugares por demais visíveis...

terça-feira, novembro 04, 2003

Os efeitos acústicos da bola de cimento
Para o caso de ainda ninguém se ter apercebido, vamos ter mais 4 longos anos de altamente provável jejum no Benfica. Luís Filipe Vieira ganhou as eleições com uma vantagem, diria, escandalosa. Foi um grande feito da arquitectura e da construção civil portuguesas.
...
Mais extraordinária ainda é a acústica da grande obra. Diz quem já assobiou no novo estádio, que é espectacular o efeito ‘surround’ 65000:1.
...
Depois de ganhar é fácil prometer: “500 mil sócios em 3 anos”. Exagero ? Claro! Mas fonte ligada ao presidente já veio esclarecer que a promessa não se referia a “sócios” mas sim a “500 mil sacos”... de cimento. Prevê-se a construção de diversas monumentais casas do Benfica. A TVI já assegurou o exclusivo das inaugurações.
...
Entretanto fala-se já na comercialização de capacetes de obras oficias do Benfica com o respectivo logotipo afixado na parte da frente. Ao contrário dos verdadeiros, estes não serão de uso obrigatório, assegurou fonte ligada ao estaleiro benfiquista.
...
A direcção encarnada prevê também a comercialização de martelos oficiais do Benfica, que utilizados no final dos jogos contra o respectivo capacete, criarão um também espectacular efeito acústico. Há que explorar as potencialidades do novo estádio, substituindo-se assim o pouco ruidoso velho ritual do pano branco, um reconhecido plágio do 13 de Maio.
O ultimo escritor do mundo #1
Por vezes chegam-nos livros de quem menos se espera: Saddam Hussein, "Zabiba e o Rei", publicado na colecção "Contemporânea" da Europa-América.-

segunda-feira, novembro 03, 2003

Passatempo da Idade Média
Porque é preciso não esquecer, fica aqui o desafio, associar-se o nome à obra de alguns dos maiores facínoras da história, muitas vezes injustamente esquecidos:

A. Papa Pio XXII
B. Papa Nicolau V
C. Papa Inocêncio VIII
D. Papa Paulo III
E. Papa João XXII

1. Reforçou a autoridade inquisitorial em 1450.
2. Elaborou a Bula que ordenava às autoridade seculares cooperação total com os inquisidores, concedendo à Inquisição poderes judiciais e executivos em assuntos de heresia e bruxaria.
3. Apercebendo-se do potencial remunerativo que a caça à ‘bruxaria’ traria aos cofres da igreja, concedeu poder formal à Inquisição em 1320.
4. "Mediante 80 soldos pagos à Santa Sé, consentia que os leigos dormissem com as mães e irmãs, e por pouco mais os pais com as filhas; permitia ainda aos diáconos o assassínio com as condições de darem 240 soldos; aos bispos e aos abades um pouco mais abonados, o direito de apunhalarem o semelhante, se dessem 300 libras."
5. Passava o melhor do seu tempo a gerar filhos, que depois elevava a cardeais.
(solução: A.3 – B.1 – C.2 - D.5 - E.4)

De volta ao Blogger

Depois de uma passagem pelo Weblog, o espécie volta ao Blogger.