segunda-feira, março 31, 2003



“Under the bridge”
Podemos passar no mesmo sitio inumeras vezes até que um dia reparamos no que nunca tinhamos reparado. Sempre pensei que viver 'debaixo da ponte' não passasse de uma boa ideia para um qualquer sketch de teatro de revista, o local onde o desgraçado, que tinha perdido no jogo emprego e família, iria passar uma estadia, breve, pois que seria readmitido, realojado, recolhido, perdoado, mais tarde ou mais cedo, seria. Desde muito novo, sempre ouvi esta expressão sem que alguma vez tivesse visto quem quer que fosse a viver efectivamente "debaixo da ponte". Os mais pobres, via-os amontoados em casebres, como um que havia ao lado do caminho por onde passava todos os dias quando ia para a escola, ou em barracas anexas a outras também barracas. Depois passei a vê-los, os pobres, ocuparem prédios semi-construidos embargados pelas câmaras municipais, e mais tarde chegaram aos bairros sociais. Mesmo os mais pobres entre os pobres, os pobres nómadas, escolhiam vãos de escada ou paragens de autocarro, as arcadas da Praça do Comércios ou as estações de Metro para se abrigarem até que se decidissem enxotar de lá para fora. As coisas não mudaram muito desde então, nem vão mudar, receio. Há sempre alguém a percorrer o percursso, a chegar ou a partir. Agora, "debaixo da ponte", nunca tinha visto ninguem... Até hoje. Ali para as bandas de Sete Rios, vê-se do comboio, alguém está a viver debaixo da ponte. E não está de 'passagem'. O amontoado de ferro velho, a mobília da 'casa', provam-no. Vou passar naquele sítio inumeras vezes.
Comer-se
Por detrás de toda a fanfarra ideológica, política e económica, que pretende justificar ou desculpar a guerra, atribuindo-lhe um estatuto de fenómeno complexo e incontornável, continuará a estar essa máxima básica, entranhada na consciência dos povos, que resumiu, e por muito tempo ainda irá resumir toda a geo-politica: “Comer ou ser comido”.

sexta-feira, março 28, 2003

Sentir-se
É incomparavelmente mais óbvio sentir um orgasmo que sentir o mundo.
O estado da Bloggação
Ultimamente navego de blog em blog. Uma pontinha de curiosidade, outra a espionagem. Os blogs parecem-me bastante difundidos no Brasil. Quase comum a todos os blogs brasileiros parece ser aquele estilo chafurdioso de linguagem. Talvez saudável, talvez despretensioso, talvez nada preconceituoso, os nossos irmãos misturam car*lh*das com conversa séria, meio a sério meio a brincar. Desta rebaldaria por vezes saem pérolas de criatividade que nos (me) fazem roer de inveja (isto não é bem assim mas pronto). Até agora descobri e espreitei 3 blogs portugueses. Um com direito a .COM e tudo, o www.psicotico.com, escrito, ao que me parece por um gajo do Porto, meio marado e que de vez em quando espreito. A conversa parece-me arrastar-se demasiado para a night-life do autor, com muitos nomes de miudas identificados por insinuantes e resumidas vogais e consoantes. Nada mau para ele. Dos outros dois, ficou-me o de uma gaja (vamos desde já esclarecer-nos, que gaja é o epiteto utilizado para definir aquela zona incompreendida entre a miuda, rapariga e mulher) intelectual, mas mesmo intelectual, que cada dia dissertava sobre um qualquer evento cultural, um qualquer musico, pintor, do passado ao presente. Mas dissertava mesmo. Um monumento. Hoje arrependo-me profundamente não ter retido o endereço. Á vezes não me compreendo.
O terceiro descoberto, um tal BLA Lisboa, uma confusão qualquer entre chat e forum, disputado por vários gajos e gajas que em comum têm a contestação á guerra, tema forte em mais de 90% dos blogs. A guerra está também presente num blogg (mais uma vez um link perdido) dum jornalista da CNN que no Iraque mantem actualizadas com textos e fotos as suas experiencias mais pessoais e menos oficiais da guerra.
Bloguemos senhor.
Ser-se
"Não é necessário ser-se rico e famoso para se ser feliz. Basta ser rico.", Alan Alda in publicidade ao 'Banco Privado Português' in revista interna do 'Grupo Mello'

quarta-feira, março 26, 2003

Snobismo
Tenho estado a pensar seriamente em mudar o nome ao Blog. Ter o meu nome no título pode soar algo pretensioso e egocêntrico... Já o tenho no endereço... E se eu sou mesmo assim ? Por outro lado começo a notar um certo descambar dos objectivos a que me propus quando numa longínqua tarde de Março descobri este conceito (Blog) e por ele me apaixonei... É preciso andarmos sempre apaixonados. E os conceitos têm a grande vantagem em relação a outras paixões por não implicarem connosco se chegamos a casa com má cara. E não há nada mais anti-snobe do que ter má cara. Um snobe, como já me apelidaram, é alguém que nunca tem má cara, muito menos cara triste. Ao invés, quando tem que ser, aposta no semblante aborrecido ou enfadado. Estar triste é sinónimo de ter falta de algo e a um snobe nunca lhe falta absolutamente nada. É perfeito na arte do disfarce. Mas por muito que tente, não consigo disfarçar esta minha falta de dinheiro e jeito para o arranjar. Serei um snob em part-time. Estes agora outros conceitos pelos quais me apaixonei estão mais ou menos assim no livro que leio (pequeno breviário do snobismo) onde se faz a apologia desta saudável filosofia de vida. Quanto ao Blog, talvez continue tudo na mesma, o descambar continue, ou seja, em vez de criticar e reflectir sobre o que me rodeia, talvez continue nestes monólogos para ninguém sobre este alguém, armado em snob ?...
24 horas
Estive mais de 48 horas sem internet no trabalho. Não sei como mas consegui aguentar-me. Prova que o ser o humano é capaz de resistir ás condições mais adversas.

segunda-feira, março 24, 2003

Berserk
Um triângulo amoroso, uma pitada de homossexualismo, muitas batalhas, sangue a jorrar constantemente, e um final psicadélico. Vejo Berserk, um anime japonês, ou série manga, em 25 episódios, via ficheiros .avi previamente sacados da Internet. Como sempre, estes mangas japoneses são dados a muita gritaria e a estranhas configurações filosóficas, muito bélicistas. A violência é o escape lógico para a personagem em conflito interior, o caminho para se encontrar consigo própria. Filosofia e violência de mãos dadas com os destinos dramáticos dos heróis incompreendidos, solitários, violentos, mas imbuídos de valores neo-clássicos.
Ficaram-me as palavras de Grifith, o andrógino líder: “Não quero viver apenas porque nasci e estou vivo. Quero viver porque tenho um sonho para realizar” (...) “um amigo é alguém que está ao meu nível, que também tem um sonho. Alguém que por esse sonho é inclusive capaz de me matar.”
Pois...
Alberonice
Há três tipos de pessoas no mundo: As que vêem coisas, as que vêem as coisas e as que vêem o que as outras duas não vêem.
Faro
Há coisas que se nos escapam com a mesma facilidade com que ficam entranhadas noutras pessoas. Só agora sei, ou talvez já tenha sabido e esquecido, tal como acho que voltará a acontecer: Num casamento; os padrinhos do noivo compram-lhe o fato e devem comprar as alianças; os da noiva, compram-lhe o vestido. Se alguma vez alguém me convidar para ser padrinho, será certamente um bom sinal para mim. Os noivos têm um faro apuradissimo.
Estratégia Militar
Os Iraquianos incendiaram petróleo para com o fumo dificultarem a visibilidade dos pilotos, aumentando a probabilidade das bombas errarem os alvos. O que Americanos e Iraquianos entendem por alvos é a dúvida que se coloca. O pior é que no alvo ou em Bagdad, elas vão cair.

sexta-feira, março 21, 2003

Remember
"the West won the world not by the superiority of its ideas or values or religion but rather by its superiority in applying organized violence. Westerners often forget this fact, non-Westerners never do."
Samuel P. Huntington
Rio
Lisboa é bonita porque ao virar da esquina pode-se inesperadamente encontrar um bocadinho do rio.
Ódio de estimação
Oiço na TSF Freitas do Amaral, a par com Mário Soares, um dos maiores papalvos da nação, perito na indignação instantânea. Não é preciso ferver, basta juntar água e por alguém a mexer.
O escândalo agora é os americanos quererem dar ´porrada´ directamente no Saddam e nos parasitas das redondezas (vulgo filhos já com bigode também, e outros fieis seguidores). Isto depois da primeira vaga de bombardeamentos (uma desilusão mediática) os ‘falcões da guerra’ terem explicado que os bombardeamentos cirúrgicos tinham-se cingido aos palácios da ‘pombinha de bigodes’ de Bagdad, e a outros aposentos onde eventualmente com alguma sorte se apanhasse o gajo com as calças na mão. Sabe-se muito bem que em se arrancando os bigodes ao outro a malta vai para casa mais cedo. Ora, “(...) isto não pode ser, isto não é guerra! Uma guerra é sempre entre dois exércitos que se confrontam num campo de batalha. Os políticos nunca devem ser alvos (...)” Feitas dixit!!! (isto mais ou menos). Ou seja, os outros que se lixem, os outros, os ‘exércitos’, que não são gente, filhos dos outros, que andem eles á porrada, pois que não é mesmo para isso que servem?! No fundo, a podre honestidade, fétida solidariedade dos políticos.
Agradecemos-te óh Freitas a tua sinceridade, confessares ainda que involuntariamente, só pode ter sido, o que te vai na alma. O que já todos sabíamos, que tirando os políticos, e mais meia dúzia de gente essencial á sobrevivência dos bancos Suiços, tudo o resto pode ser carne para canhão ou ficar bem na rúbrica danos colaterias. Obrigadinho óh Freitas mas o problema é que ninguém abre os olhos pois há que continuar a mexer até estar no ponto. Freitas faz história, e se de papalvo já não se livrava, corre agora o sério risco de se tornar a mais obscena das criaturas com direito de antena permanente deste pais, assim continue a abrir a boca.

quinta-feira, março 20, 2003

Porrada
Ao contrário do que se apregoa, a porrada pode ser a única maneira de resolver situações. Quem já andou à porrada sabe que isto é verdade. Pode-se poupar muito tempo. Mas naturalmente, a malta não tem vocação para a porrada. E é compreensível. Aleija e ás vezes faz sangue. Daí que numa sociedade civilizada, os políticos, representantes do povo, representariam-no também, sempre que houvesse porrada ou até mesmo guerra!
A malta continuava as suas vidas, e os gajos que se entendessem. Porrada havia de vez em quando; a guerra entrava em vias de extinção. É que ao contrário da salutar porrada, a guerra não é um mal inevitável ou evitável. Como estão as coisas, a guerra é natural. E não se compreende toda esta indignação, perigosa indignação acerca da guerra do Iraque, parte II. Ainda mais quando meio mundo está chocado porque falta o aval das nações unidas, a carta branca, livre transito legal para a morte. Entre uma guerra com aval e outra sem, a diferença é preocupante porque na realidade não há diferença. Mas há quem veja uma grande diferença. Entre uma e outra, prefiro a sem aval. A outra seria uma guerra ‘legal’ e a guerra nunca pode ser legal. Assim, esta é ilegal como todas. Assim, nesta, os americanos terão mais cuidadinho, serão muito mais cirúrgicos. Imaginemos um marine americano bronco, equipado com um aval da ONU... Nem os camelos do deserto escapavam.
Reciclagem
Sendo a felicidade o bem de consumo mais procurado e desejado do mundo, está com um preço inflacionado. Não se lhe consegue chegar. E o pior é que mesmo que a compre-mos a prestações, não há espaço para guardá-la. Pelo menos durante muito tempo. E depois começa a deteriorar-se. É que o espaço para a felicidade é cada vez menor. Os ricos estão a retirá-lo aos pobres. Sim, acho que são eles, os ricos. Mas não sabem o que fazer com ele. Tanto espaço para nada. É que a felicidade a que conseguem pôr as mãos traz sempre um sabor esquisito. Por vezes nem sequer a chegam a prová-la. Então mandam-na para a reciclagem. Sempre ganham algum. E vão apanhar sol para o deserto.
Cores
A cor preta deveria servir apenas para vestir as mulheres, realçar-lhe os olhos e pintar-lhes os lábios. Nunca as unhas.

terça-feira, março 18, 2003

Benfiiiiii-ca!
O problema do Benfica é o adepto. Venha ele treinador que vier, goleador ou apanha-bolas. A todos pode tocar a chicotada, a todos, menos ao adepto. O ideal seria substitui-lo. Mas não se pode fazer nada, pelo menos a curto/médio prazo. É um trabalho de geração. O Benfica deveria investir no adepto. Sendo o adepto benfiquista aquele que mais reflete o espirito ou a alma do povo português, jamais o Benfica voltará a ganhar um campeonato. É que o Estado, não investe no povo e jamais o povo subirá de divisão. Jamais em politica significa talvez. Em futebol, gente mais séria e com algumas caneladas, jamais significa 1, no máximo 2 ou 3 anos.Alargo o conceito e julgo que terá o clube glorioso mais 15 anos de seca, chicotada, e canelada no arbito. A tendência do adepto benfiquista é para piorar. É certo que o efeito 'novo estádio' pode fazer alguma coisa, alguma 'aburguezação' do adepto. Mas não acredito. A esperança que possa acontecer aquilo que aconteceu ao Sporting, aquela travessia no deserto que provocou um refinamento na cultura clubistica do adepto, é dificil de acontecer quando o ego excede largamente a lotação do jogo.
O Benfica está destinado a ser um clube de grandes presidentes e festas de homenagems, grandes estátuas e estádio, grandes eleições de misses e vitórias grandiosas nos iniciados em futebol de salão, mas jamais voltará a ser um clube de grande futebol. Aqui e ali, haverá aquele rasgo de prodigalidade que só os grandes clubes como o Benfica são capazes. Mas o adepto, esse, sem investimento, arrastará o benfiquismo para o miserabilismo, ao ponto de no futuro a fusão com um Sporting não ser uma hipotese, antes uma inevitabilidade.

domingo, março 16, 2003

The good wife's guide*
1. Have dinner ready. Plan ahead, even the night before, to have a delicious meal ready, on time for his return. This is a way of letting him know that you've been thinking about him and are concerned about his needs. Most men are hungry when they come home and the prospect of a good meal (especially his favorite dish) is part of the warm welcome needed.
2. (*to be continued)
in Housekeeping Monthly, 13 May 1955

quinta-feira, março 13, 2003

Ideia para longa-milimetragem II
Um casal vive feliz principalmente sempre que dá o Big-Brother na televisão. Até que um dia o homem da casa decide de então em diante cortar os És do seu vocabulário substituindo-os por Ós. A ideia ocorrera-lhe um dia antes quando tinha estado nos copos até ás tantas quando afinal lá tinha chegado não eram tantas quanto isso. Esta decisão é acompanhado dum súbito e inexplicável desejo de ter alguém a chamar-lhe papá ou até mesmo pai, e de comprar um cabide novo. Aproxima-se da mulher que está tão entretida a trocar as pilhas do telecomando do televisor que nem repara que está a dar um ultimo episódio qualquer onde finalmente a filha do fazendeiro ganha coragem e aceita fazer uma complicada operação na Suíça para lhe tirarem as peneiras. Ele pousa-lhe a peruca em cima do joelho e pergunta-lhe doixas-mo fazor-to um bóbó? Ou tonho dinhoiro para as fraldas!. Como a mulher era trans-sexual, pensou que ele, ou a estava a gozar ou então estava com lombrigas. Atirou-lhe com o telecomando na direcção da cabeça mas um bocadinho mais para a direita. Desviou-se ainda a tempo de ir apanhar uma sessão continua no Olímpia. E foi lá que lhe fizeram um.
Conversa para mulheres
Os homens na cama são como os aviões!... Há aviões mais rápidos que outros, há diversas maneiras de se fazerem á pista, há aviões que aterram sem dificuldade em qualquer uma, há aviões que podem ser reabastecidos durante o voo, há outros que têm que fazer escalas técnicas, há aviões de guerra, outros civis e outros que só servem para transporte de mercadoria, há aviões que são capazes de aterrar na vertical e há outros que aterram tanto na vertical como na horizontal, há aviões telecomãodados sem piloto e há aviões que se despenham antes de levantar voo. O levantar voo e a aterragem são os momentos mais críticos.
Ideia para longa-milimetragem
Um dia depois de almoçar uma feijoada á Transmontana, um homem decide que é chegada a altura de se suicidar. Sai para fora da cidade e munido duma bússola, conduz-se na direcção do poste de alta tensão mais próximo. Quando chega, tem o cuidado de escolher um sem ninho de cegonha e começa a trepá-lo descalçando-se para o efeito. Quando chega lá acima, repara que não há luz e conclui que só pode ser por isso que andam um pardal e um pombo á bicada por cima da sua cabeça. Quando cai o pombo degolado nas suas mãos, lembra-se que deixou a torneira de casa aberta e decide voltar para a fechar. Como tem pressa, atira-se poste de alta tensão abaixo mas sobrevive porque a queda é amparada pelos sapatos e meias que lá em baixo tinha deixado. Antes de fechar a torneira, passa por uma sapataria e por uma casa de ferramentas e compra respectivamente uma calçadeira porque misteriosamente agora não conseguia enfiar os sapatos, e um serrote, não fosse a torneira estar avariada. E estava mesmo. Rapidamente chega à conclusão que o serrote que tinha comprado apenas foi útil para lhe serrar as unhas dos pés e a água essa continuava correr. Quando já tinha água pelas virilhas, decidiu ligar para um canalizador. Em menos de 10 minutos estava em sua casa uma canalizadora diplomada por uma universidade que não dava para ver o nome porque a água lhe tinha apagado a tinta do diploma. A canalizadora também não conseguia resolver o problema e quando a água lhe chegou ao umbigo, decidiu despir-se e mostrá-lo ao homem que fez o vice-versa. Como foi amor á primeira vista, começaram a fazer amor em cima da caixa de ferramentas, na proporção de 2 partes de amor, 3 de sexo e 5 de água. Aquilo resultou durante alguns minutos mas depois, quando a água já lhes dava pelo nariz, começaram a sentir uma sensação estranha, assim como se não conseguissem respirar. No meio de tanta perna e braço e zona púbica inclusive, no meio de tanta falta de ar e aflição, mas mesmo no meio, a canalizadora teve o discernimento de procurar um botão qualquer de emergência que houvesse por ali. Descobriu-o e depois de o carregar, surgiu uma placa com uma seta a indicar a direcção em que se encontrava o ralo. Mergulhou e conseguiu destapá-lo partindo no entanto uma unha. Gerou-se um redemoinho e os dois ficaram muito tontos mas secos. Entretanto veio a luz que fez ligar a televisão onde apareceu um senhor da companhia da electricidade a desculpar-se pela falta. Então o homem reparou que a canalizadora tinha partido também os saltos altos. Aproximou-se lentamente dela e disse-lhe baixinho ao ouvido Desculpa mas agora tenho que ir... Tenho que apanhar o poste de alta tensão mais próximo.

quarta-feira, março 12, 2003

Fortuna
A vida, a minha, é feita de contracensos. Mas é que são demasiados! É aflitivo. O mais recente, acabadinho de descobrir, é este meu doentio desinteresse pelo IRS. Qualquer cidadão decente tem que por esta altura andar minimamente obcecado com tal. Aliás, a obsessão começa muito antes, mesmo antes do Natal, a altura do bombardeamento dos PPR’s. Não há canal que se mude, não há pagina de jornal e revista que se vire que não tenha lá enfiada publicidade dos bancos e seguradores, os mensageiros que anunciam para breve a chegada do messias da desgraça. O instinto leva qualquer um a pedir ao amigo que percebe de informática ou ao primo dele que trabalha nas finanças, que lhe arranjem a disquete mais desejada do ano com o programa de simulação. Qual Maya e outros zandingas quais carapuça! Ninguém resiste a saber que algures existe alguma coisa que permite saber o futuro com uma precisão até ao cêntimo.
Ora, por esta altura, a poucos dias do termo do prazo para entrega dos números do ano passado, não há cidadão que não faça simulações, não vasculhe entre as entrelinhas dos códigos artimanhas, não há ninguém que não se lance em busca da factura perdida.
Precisamente nesta altura, em que me encontro em falência técnica, mais do que nunca, deveria ser bom cidadão, juntar-me à prole, e alegremente discutir a táctica e a estratégia do IRS deste ano. Mas tal não acontece e deixo-me arrastar nesta languidez irresponsável até ás ultimas horas do ultimo dia, sem facturas, sem truques nem dicas, meia dúzia de números apenas que nem sei onde os encaixar. Sabe-se lá, que fortuna não estarei eu a perder vitima de mim próprio.-

terça-feira, março 11, 2003

Repartição
Trabalha-se melhor com os dias bonitos. A luz natural sobrepõe-se á artificial. Até se podia desligar. Mas parece ser desta fusão de luzes que brota este estranho bem trabalhar.
Teorias da felicidade – O Ritmo mediático
Um dia destes pus-me a fazer contas à média. Quanto tempo em média têm-me durado o telemóvel, o computador, o relógio, o carro, a casa, o emprego... A conclusão que se chega é que não há nada que hoje em dia seja para toda a vida, assim como o salário não é para todo o mês. Mas isto está mal. As coisas se calhar deveriam ser para toda a vida ou então que durassem pelo menos até que acabássemos de pagar as prestações. Se nós somos para toda a vida, porque não ter um gira-discos para toda a vida ?! É claro que aqui entra a natureza de cada um e claro, o desgaste do material. Há gajos que como eu não suportam usar a mesma camisa em média mais que dois dias. Quem estivesse ao pé de mim também não suportaria. Mas falemos do essencial, ou seja, bens de consumo, que é para isso que cá estamos, consumir logo, existir. No meu caso, não suporto andar com o mesmo carro mais de 7 ou 8 anos. No entanto com o telemóvel a média baixa para 2 anos. Com o computador vai até aos 9 anos (escandaloso!). O relógio 2 ou 3, emprego vou com 10, a aparelhagem hi-fi irá nos 8... Há aqui uma falta de coerência assustadora e há um ritmo 'mediatico' (não encontro outra palavra, digamos que será o mediatismo do consumo) que tenho que descobrir. Não sei mesmo até que ponto a felicidade de cada um de nós não residirá em encontrar esta média. Por exemplo, o que se propõe seria, um gajo que gostasse de mudar de telemóvel de 6 em 6 meses, que fizesse o mesmo com todos os restantes bens de consumo. Carro novo de 6 em 6 meses, computador, câmara digital, relógio, até mulher, porque não?... Tudo, sem que fosse necessário ser tudo na mesma altura, mas apenas que se respeitasse escrupulosamente a média: 6 meses. Se era essa média, a sua natureza, que fosse, e que não se deixasse ludibriar com a conversa de publicitários, vendedores, padres, políticos e outros apóstolos do consumismo degradante. Certamente seria feliz, encontraria de certo uma paz e tranquilidade interior que justificaria qualquer dispêndio extra ou um alargamento no plafond do cartão de crédito. Feliz, como um primo meu foi. Ele tinha um BMW daqueles antigos (está-se a ver qual é o modelo não está ?), tinha-o desde que o conheço, ou seja há menos de 32 anos. Tinha o mesmo relógio, a mesma casa, a mesma mulher, a mesma filha... Todos estes gloriosos anos. Ele tinha encontrado o 'seu segredo' da felicidade ao descobrir o seu 'ritmo mediático'. Ele era feliz com o seu ritmo 'lifetime', tinha uma coerência nas suas médias e um equilíbrio existencial de fazer inveja a qualquer discípulo de Buda e aos vizinhos, nem se fala. Aqui há uns meses, não sei que carga de água lhe passou pela cabeça, decidiu vender o BM e pior, decidiu comprar um carro novo qualquer, daqueles tipo 'pequeno qualquer'. Está-se bem a ver o que aconteceu. As médias ficaram completamente desestabilizadas. E sabe-se lá o que atrás do carro novo veio pois que são tantas as tentações que passam pela cabeça das pessoas equilibradas... Quiçá televisão de écran plano, telemóvel com toques polifónicos, sabe-se lá... E perante vida tão desequilibrada, que aflição não sentirão a esta hora as primas, mulher e filha, com receios mais que justificados de serem substituídas por umas novas e fresquinhas!... E se me perguntarem se o homem está feliz, nem pensar!! É vê-lo a lavar o seu carrinho nas maquinas de lavar os carros, ar cabisbaixo, de mangueira de alta pressão na mão, entristecido a ver a espuma a desfazer-se no tablier do carro pequeno, quando antigamente era vê-lo puxar orgulhosamente o lustro ao BM, que não havia ali grama de pó que pousa-se mais de 10 minutos em cima da chapa mais bem polida da cidade.
Ou seja, para meu bem e para bem dos que me rodeiam, estou decidido a descobrir o meu ‘ritmo mediático’ pois quem sabe se as médias não serão a resposta a tantas questões, como por exemplo porque tenho o saldo da minha conta negativo...
Vermoil
Uma está certa.
- Empresa americana que explora petróleo numa das propriedades de Saddam nos arrabaldes de Bagdad.
- Verme descoberto nos petroleo oriundo do Iraque por cientistas Vaticanenes. O verme consegue em 24 horas transformar um barril de petroleo em água benta.
- Terra qualquer para as bandas de Leiria.
- Alcunha que os funcionários da mequedonaldes dão ao oleo de fritura das batatas.
Três estão menos certas.

sexta-feira, março 07, 2003

Cheira
Era uma vez um menino do tamanho dum pionés que morava sozinho num belo agrafador sem marca. Um dia, uma menina que tinha a mania que era pau de incenso, disse-lhe que o raio do agrafador estava assombrado por um agrafe que anos antes se tinha ali entortado por amor, sem deixar testamento a ninguem. O menino que até então vivia feliz na sua ignorancia, nunca mais foi o mesmo. Atirou-se agrafador abaixo e foi vê-lo, estatelar-se no chão, de bico afiado para cima. Ficou ali, bem de saude, a olhar para o tecto falso, apenas com um naco do resto do frango assado do almoço preso aos dentes e uma ligeira dor nas costas. Aproximou-se a dona do famigerado isqueiro, um serial-killer da pior espécie, recargável, que vinha descalça... Está-se bem a ver o que aconteceu!... O pionés foi esmigalhado por um calo há muito fossilizado, e a gaja do pau de incenso também não se safou. Cheira não cheira ?

quinta-feira, março 06, 2003

Ricos
"O gosto só se adquire pela contemplação do excelente, não do razoaável", Goethe, sem tirar nem pôr in "Espiral da Loucura", perdão, "Espiral do Tempo", número sete, revista de alto gabarito sobre o mundo relojoeiro e seus artesãos, como o Franck Muller, rapaz que aparece na capa, de mãos nos bolsos, estilo 'miami vice', com cara de "comprem-me relógios porra!", e que se meteu nisto há dez anos e agora já se dá ao luxo de ter o seu modelo Franck Muller Big Ben à venda por uns € 28.725,00. É pegar ou largar! A isto chama-se 'excelente'. 'Razoaável' chama-se ao relógio Prime Time, resistente até 30 metros debaixo de água, com três anos de garantia, e que poderá ser encontrado num qualquer supermercado Lidl por € 6,99. "Os ricos têm o tempo e os pobres os dias", Francisco Umbral, in mesmo sítio, pág. 119.
"- Nunca vou conseguir atingir os resultados que pretendo
- Não me consigo motivar
- Está demasiado frio
- Aborreço-me com facilidade
- Não tenho tempo suficiente
- Estou demasiado cansado
- Sou demasiado velho
- Quero passar mais tempo com a minha família & amigos
- Estou demasiado deprimido"
in, # news, holmes place (cadeia de ginásios de fitness/musculação)
Maybe line , maybe latter
Bush + Petróleo = Gasolina
O folclore está na nossa essência... Atentem-se as recentes campanhas anti-bush! O senhor Bush é o nosso alter ego. Ele apenas está a defender o nosso direito de termos gasolina para o nosso carrinho japonês, de podermos comprar DVDzinhos para os nossos leitores de DVD que iremos comprar, ultimo modelo, se ainda não temos. Claro que ele está a borrifar-se para o que se passa no resto de mundo, desde que não seja escandalosamente evidente. E somos nós quem decidimos o que é ou não é escandalosamente evidente. O que se passa no resto do mundo geralmente é a fome e a violação dos direitos humanos. E nós, que não somos o resto do mundo ? Estaremos dispostos a abdicar das nossa vidinhas tecnologicamente fúteis, das nossas casinhas engavetadas... Não ouvem a barulheira que fazemos, a gritarmos agarradinhos aos nossos salários, que por favor, nós queremos continuar a consumir roupinha de marca, e de vez em quando ir ao Mc’Donalds, e comprar umas revistas com umas gajas boas na capa, e continuar a ver o Figo na Sport-TV, e a ter gasolina... Já nos demos conta da relação intima que a gasolina e o petróleo mantém ? Não somos todos filhos dessa relação ? Haverá melhor defensor dos nossos direitos que o Sr. Bush ? Sim ?!! Quem ? O Chirac ? Pensem bem... É obvio que o macaco do Saddam tem armas de destruição maciça. Quando os generais dele aconselham os Americanos a estarem quietinhos, que se invadirem o Iraque morrerão aos milhões... Com quê ? Com aquelas armas artesanais com munições de brincar de madeira ? Aliás, o próprio Saddam é uma arma de destruição maciça, de liberdade, de consciência... Vejam como está o povo Iraquiano. Deve ser dos povos mais fanatizados, logo miseráveis do mundo. Ok, materialmente poderá ser também por culpa do embargo, mas espiritualmente... E mesmo materialmente, viram o que o fulano fez aos carros civis que furaram o embargo como sendo alimentos ? (os gajos podiam trocar petróleo por alimentos. Os Japoneses da Nissan, lá fizeram entrar jipes disfarçados de sacos de batatas) Converteram-nos em máquinas de guerra (jipes metade action man metade marés vivas só que suicidas em vez de loiras no banco da frente).
Os alicerces da nossa civilização Ocidental, sempre foram a exploração de recursos do planeta, a usurpação de terras e de culturas, a escravatura legalizada do homem. Sempre foi assim, ao longo de séculos, aniquilámos tudo á nossa passagem para que hoje pudéssemos estar onde estamos, a magnifica e gloriosa civilização ocidental. E vamos continuar, com ou sem Bush. Venha outro, e receberá esta pesada herança, com cada um de nós a reclamar o seu quinhão.
Tudo se resume á lei do mais forte. Até ao nível celular é assim. E parece-me óbvio que continuamos a ter pouco mais do que a racionalidade duma bactéria.
Entre um mundo Iraquizado (como descaradamente os fundamentalistas como o Saddam, o Bin Laden e comparsas desejam, e não duvidemos que não fosse termos ‘A força’ do nosso lado estaríamos todos a comer o pó do caminho para Meca ) e o mundo Americanizado, obviamente prefiro o segundo, mas desejo um outro. E é isso que neste mundo pudemos fazer, livremente, desejar algo melhor, e criticar livremente e construir, sem termos um quadro numa linda moldura dourada com um gajo de bigodes á frente.
Final
Sim, eu também estava lá. No terceiro anel, lado sul, por detrás da baliza onde foram apontados os pénaltis. A única vez que fui ao estádio da luz. (que grande benfiquista!!!) Era aquele miúdo com uma bandeirita de Portugal na mão. Reparam em mim ? Pois, acho que com toda a certeza que não! Quem iria reparar ?! E na bandeirita ?
Filhos
Quando são dois, casalinho, um ganha para pagar a casa, e o outro para os devaneios, as férias e os gastos da casa, e o outro é para o carro... Há aqui qualquer coisa de errado não há ?!!! Claro que há. Então e o outro, que ganha para os filhos ?
União
Um golo é como enfiar a bola nuns paus espetados no chão com uma rede atrás. A união entre as pessoas é como enfiar uma linha numa agulha e começar a cozer, a amar, a chamar nomes ao arbitro, sem dedal; depois picamo-nos e adeus.

quarta-feira, março 05, 2003

Vamos á freira
Tenho a certeza que não trocava o meu Sábado ou o meu Domingo por nenhuma freira. Mas surge-me a duvida sobre qual a minha freira preferida. Opto pela 6ª freira que é a que levanta as saias e já dá para ver um bocadinho do fim de semana.
Vamos á feira
Leio algures numa página do livro que leio algures, mais propriamente entre a estação do Pragal e Campolide, que quando toda a gente anunciava (eu não!) que o mundo com a globalização se iria transformar numa aldeia (global), transformou-se antes num feira global. Mas é claro que sim. Está na cara que sim. E ninguém faz nada ? Ou está tudo na bicha para ser atendido ?
FM - ro
Nunca me dei bem com o efémero. Nunca achei piada oferecer a alguém um ramo de flores, sabendo que passados uns dias elas vão esmorecer e morrer, tudo o que menos desejo. Uma flor então nem pensar. Um ramo ainda é uma estatística, uma flor uma poesia. Logicamente tenho tido alguma dificuldade em dar-me bem com a vida. Ainda mais com os fins de semana e feriados, principalmente quando calham a meio da semana. Mas há coisas ainda mais obviamente efémeras que a própria vida que ao contrário do que dizem não são dois dias. E muito menos o carnaval são três. O Carnaval só é bonito no Brasil porque é lá que ele vive. Nos subúrbios do mundo são algumas horas onde as pessoas tem necessidade de exorcizarem o que é que quer que seja. Este o que é que quer que seja geralmente é preocupante e deveria ser alvo de estudo. Não sendo possível dada a falta de cadeiras na sala de espera, o que proponho é que a vida e o carnaval deiam as mãos, os pés e principalmente as bundinhas. E que assim seja todos os dias. Ou seja, que se fundam os dois e nasça a Carnavida ou a Vidaval. Acabava-se o efémero lógico, começava a existência em frequência modelada.
F...
Ás segundas feiras dou de caras sem poder dar com os pés, com este exercício de mediocridade assalariada misturada com o suave odor da estupidez que espreita na nesga da porta. Os vencedores do fim de semana exibem o trofeu da vitória de mãos vazias e cabeça a condizer. Regozijam-se pelo discreto prazer que é julgarem ter provocado qualquer espécie de dor que passe pela humilhação ou vergonha da derrota aos outros. Falo do futebol. E de futebol deve falar-se o menos possível, e muito menos ler-se.

segunda-feira, março 03, 2003

Um conto indiferente
Era uma vez um pequeno conto. Franzino, engelhado, quase medíocre mas muito ambicioso. A sua história começa na primeira letra, à qual se juntam outras, espaços e sinais. Formam-se as primeiras palavras, as primeiras linhas... A primeira folha. E a seguir nada mais surge. A alma esvazia-se em apenas uma folha. Uma folha ? Que generosidade! Acabaram-se muito antes as letras e os espaços cuja sequência deveria fazer sentido. Frustração. Tudo o que este conto queria era ser um livro. Um livro com uma bela e luzidia lombada. Um romance, uma novela, um drama ? Pormenores sem interesse. Pode ler-se mas não se pode agradar à lua e ao sol. Mas queria sobretudo ser um livro farto, cheio de conteúdo mas sem ser fanfarrão. Muito para esfolhar, muito até chegar ao fim. Um livro apetecido, devorado pelos entusiastas, que não deixasse ninguém com essa sensação de... indiferença ?...
Bocadinhos de palavras nuas bonitas

iconoclasta
do Gr. eikonoclástes, destruidor de imagens
adj. e s. m., destruidor de imagens; aquele que condena o culto das imagens ou dos ídolos;
(fig.), aquele que tenta destruir ideias religiosas, opiniões estabelecidas, tradições.
ateu
do Lat. átheu < Gr. a-theós, sem Deus
s. m., aquele que nega a existência de Deus; incrédulo;
adj., ímpio.
laico
do Lat. laicu
adj., leigo; secular;não religioso.
niilismo
do Lat. nihil, nada
s. m., redução ao nada; descrença absoluta; doutrina política russa que recusava toda e qualquer imposição social e que defendia que o progresso da sociedade só seria possível após a destruição de tudo o que socialmente existe;
(Filos.), doutrina segundo a qual não existe nada de absoluto (inexistência de realidade substancial) nem possibilidade de conhecimento do real e que, por isso, se caracteriza por um pessimismo metafísico e por um cepticismo relativamente aos valores tradicionais (morais, teológicos, estéticos)
Filmes Favoritos deste gajo:
2001 # A Clock Work Orange # A Perfect World # Alien III # Alien IV # Alien # Aliens # American History X # Amor Perro # Beloved # Blade Runner # Brasil # Breaking the Waves # Cat Peopple # Delicatessen # Dr. Strangelove # Eyes Wide Shut # Gosto dos Outros, O # Gato Preto, Gato Branco # Heat # Hellraiser # Jacob’s Ladder # Le Fabuleux Monde de Amélie Poulain # La Cité des Enfants Perdues # Lost Highway # Matrix # Orlando # Raising Arizona # Sleeper # The Elephant Man # The Exorcist # The Hunger #
The Party # The Sugarland Express

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