segunda-feira, março 08, 2004

quarta-feira, março 03, 2004

O aniversário

É verdade, hoje este blog completa o seu primeiro ano de vida. Não posso esconder algum orgulho por ter chegado até aqui, escrevendo regularmente, diria 3 ou 4 vezes por semana. Isto conhecendo-me como me conheço, trabalhando onde trabalho, com a disponibilidade que tenho, é obra. E nem de de propósito, a frase do dia no Citador, aqui ao lado, diz Cícero que "todos acham as suas obras belas". Subscrevo.
Ainda há um orgulho extra, o de ter-me metido nisto algum tempo antes do grande boom dos blogs se ter dado em Portugal, sabendo no entanto que muitos já cá andavam muito antes de mim. Não sou portanto propriamente um pioneiro mas à medida que o tempo passa, vou sendo cada vez mais um resistente. O futuro só a nós pertence.

Anedotomania (post especial: 'collectors edition')

Ás vezes penso que nunca terei sorte na vida. Por arrasto, nunca serei feliz. Feliz no sentido abstracto e delirante da palavra; isto é, por exemplo, andar nas nuvens a enviar e receber sorrisos de outras pessoas felizes que circulam na vida também nas suas próprias nuvens... É confortável e fácil pensar que a felicidade não existe. Mas a sorte existe e negá-la é impossível... E a sorte pode ser um excelente substituto da felicidade.
Começo a aperceber-me que a sorte sorri cada vez mais àqueles que sabem contar anedotas. Pode ser tudo uma grande coincidência, mas é o que tenho constatado. E por isso fico ainda mais desolado. Nunca tive grande jeito para contar anedotas. Nem grande nem pequeno. Sou uma nulidade. A habilidade exige expressividade e eloquência, coisas que não são propriamente dons em mim. A inteligência não é requisito obrigatório, ao contrário do rosto de quem a conta, que convém ser daquele tipo de rosto que facilmente se possa confundir com a sua própria caricatura. Além disso, a arte de bem contar anedotas exige também uma memória prodigiosa. Há pessoas com um inventário anedotal tão vasto que para elas a carie que andamos a tratar faz-lhes lembrar mais ou menos quinhentas anedotas de morrer a rir. Por exemplo, o meu dentista é um desses, e está sempre a dar-me na cabeça porque me esqueço de ir ás consultas.
Actualmente existe por toda a parte um fenómeno de anedotomania de proporções alarmantes. Na net, por mail deverão circular diariamente milhões de anedotas diferentes ou iguais aquelas que recebemos há dois anos atrás e que certamente ainda haveremos de receber várias vezes ao longo da vida. Na televisão, os malucos do riso e o levanta-te e ri exploram e reforçam a mania de forma lucrativa. Por toda a parte vemos pessoas serem brindadas, reconhecidas e premiadas com muitos amigos e secadores de cabelo, por saberem contar bem anedotas. Não há noite entre amigos numa esplanada que não vá descambar num vazio de temas e ideias, consequentemente, num chorrilho de anedotas. Nas escolas as criancinhas trocam entre si anedotas supostamente proibitivas para as suas idades. Se antigamente provar o fruto proibido era saltar o muro da escola para ir á laranja na quinta ao lado, agora os putos entretêm-se a contar anedotas porcas. E os namorados passaram a substituir as promessas de amor por anedotas. As mulheres gostam de gajos que as façam rir, mesmo que seja da forma fácil e imbecil. A anedota é um anestesiante de curto efeito, mas, se bem ministrado, é o suficiente para convencer o nosso gerente de conta a baixar-nos o spread do crédito habitação. Ou seja, saber contar bem anedotas certas, no lugar e sítio certos, hoje em dia além de poder ser um eficaz elixir para a nossa auto-estima, pode-nos abrir muitas portas e por arrasto, conseguir muitos engates.
Durante anos a fio fui incapaz de reter uma anedota que fosse. Depois de me rir á gargalhada, passados 10 minutos já não sabia do que me tinha estado a rir. Isto era dramático e melhor que ninguém, eu soube compreender muito bem o gajo do “Memento”. Defeito genético ou não, era incapaz de contar uma anedota sequer. Agora já estou melhorzinho, e cada vez que oiço uma mesmo mesmo boa, ainda consigo lembrar-me dela a tempo de escrever aqui no blog.
Para país anedótico, cidadãos anedóticos. E a este respeito julgo existirem ainda imensas minorias de gentinha iletrada sem o menor jeitinho para saber sequer quem é o Fernando Rocha e muito menos contar anedotas. Exigiam-se cursos de formação financiados pelo FSE (vulgo, cursos da CEE). Para o bem comum, qualquer cidadão devia estar habilitado a saber contar e, não menos importante, saber aceitar viver como uma anedota.

segunda-feira, março 01, 2004

Hermanices

Ontem na SIC vi Herman contemplar, com um jantar á pala no seu restaurante, alguém de Torres Novas, suposto autor da melhor anedota da semana. Já no dia anterior lera eu na Maxmen que um leitor tinha sido contemplado com um jogo de pneus de automóvel, por ter sido o suposto autor da anedota do mês. Característica comum a ambas as anedotas: o cú. A do Herman, era a história da pila que andava a trás do cu, e a da revista Maxmen, a história do cartão único (C.U.). A primeira já tem barbas, a segunda já deve ter passado pela caixa de correio electrónico de metade da população dos Palops. Naturalmente que a rapaziada contemplada não foi a autora das anedotas. Mas foi premiada e porque ninguém os acusará de plágio ou reclamará direitos de autor, acabará por receber os prémios. O que acho injusto porque todas as anedotas são património da humanidade e não deveriam ser reivindicadas por quem quer que fosse para proveito pessoal.
...
Ainda ontem no Herman, depois da intervenção dramática de Lili, achei injusto o mérito daquela soberba encenação ter ido todo para a loira e também para o público que, segundo um muito modesto Herman, “esteve muito bem e não se desmanchou”. É que só não viu quem não quis ver, a soberba interpretação do humorista em noite de Oscares. Herman e aquela interpretação de pessoa estupefacta com o que ouvia, aqueles longos segundos como se não soubesse o que dizer depois de Lili se ter retirado, fingindo estar toda f*dida com ele e a sua pandilha por ser o a ceguinha em que todos batem, aquele acabrunhado “Bem, vamos para intervalo e já voltamos!”....
Naturalmente que todos nós sabíamos que tudo aquilo tinha sido uma bela representação, que depois Lili re-entraria triunfante, interpretando aquela personagem radiante a que já nos acostumou... Mas ainda assim Herman fez bem em esclarecer que tudo tinha sido previamente combinado ao milímetro. Faltou só um ligeiro gaguejar para que ele estivesse perfeito...Assim como faltou o prometido comunicado da direcção de programas para mais tarde... ah, é verdade, também isso afinal era só de faz de conta.
...
Há muitos domingos à noite que não via mais que 10 minutos de Herman. E ontem reforcei a ideia menos boa que já tinha do programa e do humorista, assim como aumentou a minha saudade das radionovelas e bonecos que outrora interpretava diariamente na rádio. O programa parece estar feito mais para ele e para trupe do costume do que para o público. São eles quem se divertem à brava quando era suposto ser ao contrário ou pelo menos em proporções menos escandalosas. Principalmente Herman, parece continuar a querer demonstrar á força, como se fosse agora o seu cavalo de batalha, um cada vez mais ostensivo “nós por cá tudo bem”. Parafraseando um dos seus bonecos, “não habia nexexidade!” Depois do seu muito falado cabelo pintado de loiro, ontem até apresentou o programa impunhando maracas e tudo, exibindo ainda, com a sua habitual displicência, as quatro estrelas da noite, debruadas nos mamilos de duas curvilíneas meninas para evitarem educadamente o top-less integral. Desfilaram várias vezes pelo écran manifestando talentos nitidamente importados directamente do strip-club mais próximo. Ok Herman, estás desculpado, as maracas serviam para manteres as mãos ocupadas... Depois de tanto faz de conta, fiquei apenas na dúvida: aquelas mamocas, seriam verdadeiras ou verdadeiras com silicone ?

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Ball talk

No jogo de ontem à noite entre o Benfica e o Rosenborg, o jogador Nuno Gomes falhou provavelmente da forma mais escandalosa da história do futebol, um golo certo. Entre ele e a baliza a 20 cm de distancia, havia apenas ar...(uma baliza tem 7 metros de largura por quase 3 de altura). A bola veio ao seu encontro e ele remeteu-a caprichosa e incompetentemente para as mãos do guarda redes adversário. Um locutor da TVI logo acudiu em defesa do ponta de lança: "Ele não estava á espera daquela bola..." Desculpem!! Mas se ele não estava á espera daquela bola, de que raio de outra bola esperava ? Que esperava então, num lance de bola parada, ali sozinho, posicionado a menos de meio metro da baliza ? Encontrar o sentido da vida, o amor da sua vida ? Não é função de um goleador esperar pela bola, estar no sitio certo no momento certo, num sítio onde a possa receber e marcar golo ? Um matraquilho não faria melhor!
...
Durante todo o jogo, ouve-se algures um homenzinho aos berros, chamando e gritando constantemente pelos nomes dos jogadores. A camera aproxima-se e foca-o... É Camacho (Camátchô), o treinador espanhol do Benfica. É ele o principal responsável por pôr a equipa a jogar (quase) como deve ser, de os pôr a suar e a comer a relva. Futebol deve ser assim. Ainda a comem de faca e garfo, mas com Camacho, mais alguma berraria e mais algum tempo, acabarão as indigestões, virão os resultados inteiros e não apenas amostras, virão os golos e as grandes exibições, assim venha também uma nova direcção e um ponta de lança sem franjinha. O estilo de Camacho pode não agradar aos jogadores mas agrada aos adeptos, porque sentem que o treinador vibra, sente e sofre o jogo. Há muito tempo que não se sentava e levantava do banco encarnado um treinador assim.
...
No final do jogo, o locutor da TVI volta à carga, quando Nuno Gomes é finalmente substituído:
"Camacho teve ali uma troca de palavras muito interessante com Nuno Gomes quando ele se dirigiu para o banco de suplentes...
(pausa)
Camacho perguntou-lhe, Nuno estás bem ?, ao que o jogador respondeu, Sim estou bem, apenas cansado."
Shakespeare não faria melhor.
...
O Benfica ganhou por 1-0. Mais que suficiente para garantir a passagem à próxima eliminatória.

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Deus, patrocinador oficial

"A bíblia é um livro de razões, arqueadas umas sobre as outras, impiedosas, mortíferas, cuja principal razão é provar que Deus tem sempre razão, porque está acima dela, o que é uma razão suficiente para, justamente, não ter de apresentar razões." in "Pequeno tratado para uso daqueles que querem ter sempre razão", Georges Picard

sábado, fevereiro 21, 2004

Perseguição (série, história infilmáveis)

Nus,
Numa madrugada quente,
Na obscuridade,
Conseguem ser verdadeiramente,
Sozinhos.
Não têm o mínimo medo,
Esses medos.
E podiam mesmo morrer a qualquer instante.
Sentem que sim,
Intensamente,
E amam.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

"Entrevista histórica"*

Ontem à noite, terá sido apenas uma feliz coincidência, a entrevista de Pinto da Costa ter ido para o ar no horário habitual dos “Malucos do Riso” ?
* SIC dixit

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

1 £ = 1.325 €

Durante o dia de hoje, os adeptos ingleses para o jogo de logo à noite entre as selecções portuguesa e inglesa serão recebidos no aeroporto de Faro por moçoilas lusitanas que, vestidas a preceito, lhes distribuirão flores e sorrisos. Estarão também a recebê-los grupos de danças e cantares, e antes do jogo haverão ainda outras performances artísticas. Objectivo: manter os ‘hooligans’ sossegadinhos. Isto é, dar um tratamento visivelmente especial, quase de tapete vermelho, a quem menos merece. Na sua maioria, uma cambada de fanáticos com fama e proveito de fazerem sempre porcaria onde quer que vão... Quando deveriam ser recebidos, no máximo, como os outros, talvez até com maior discrição mas subtilmente controlados.

Bryan quem ?

Slave to love – Lavado para amar
It’s only love – Isto é só amor mas passa
Will you love me tomorrow – Apesar da tua amnésia, ainda me amarás amanhã
That’s how strong my love is – Estás a ver o pilar daquela ponte, o meu amor por ti é assim
Crazy love – Amor maluco, à Julio de Matos
The price of love – Querida, esperemos pelos saldos
I love how you love me – Amo como me amas e vice versa, acho eu
This love – Fica com este amor que é o teu número
Falling in love again – Cair outra vez do amor abaixo
Love me madly again – Ama-me, mas agora pode ser á Miguel Bombarda
Is your love strong enough – É o teu amor suficientemente forte ou precisas de vitaminas
My only love – Amo-te ao de leve
Goddess Of Love – Goza-me ou louva-me
Nobody Loves Me – Ninguém me ama com este cheiro na boca
A Fool For Love - Um louco por croquetes
One Way Love – Amor com sentido único e traço continuo
I'm In The Mood For Love – Estou assim com umas ganas para amar que nem te digo
Sweet and Lovely – Doce e com sabor a groselha
Lover Come Back To Me – Amor agora por trás, faz a vontade a mim
Love Me Or Leave Me – Ama-me ou deixa-me da mão

Quem quer que cantasse tantas vezes o amor como canta Bryan Ferry, dificilmente poderia escapar a um rótulo, ser conotado de cantor pimba ou piroso, ou ver títulos de musícas suas serem parodiados num blog de quinta categoria. Ferry escapa a quase tudo isto, mas seguindo a ordem natural das coisas, mais tarde ou mais cedo começará a percorrer o calvário dos cantores românticos em decadência, fazendo primeiro os intervalos de um ou outro concurso de misses, depois pisando os palcos dos casinos, até passar a ser a atracção da noite numa ou noutra festa social mais chique... Se tiver sorte e não acabar os seus dias a fazer a 1ª parte dos Irmãos Catita no Maxim’s! Mas não me parece. E o segredo da longevidade artistica do avô Ferry, está não só na qualidade das letras, como também na sofisticada orquestração das suas musicas, ambientes sonoros intemporais muito intensos e envolventes que assentam que nem uma luva na sua inconfundível voz lamuriante. No seu ultimo álbum, “Frantic”, parece ter-se virado mais para o mercado americano, indo buscar algum ritmo às baladas country e aos blues, revisitando também mais assiduamente o estilo rock n’roll dos anos 70, coisa que no entanto ele pontualmente sempre fez questão de fazer. O álbum tem em “a fool for love” o grande Bryan dos velhos tempos e em “hiroshima”, 3.14 minutos do Ferry actual e em grande forma.

terça-feira, fevereiro 17, 2004

Rosas anãs (série ‘histórias infilmáveis’)

Um homem coloca religiosamente todos os dias uma espécie de rosa anã à frente de uma mulher que se apaixona e acaba por lhe dar tudo o que tem. E pela primeira vez na vida ela está feliz porque sente não ter mais nada a dar. Durante algum tempo vive num mundo perfeito onde as únicas flores que existem são as que recebe. Até que, inesperada e inexplicavelmente, o ritual da rosa anã pára. A mulher, de certo modo, estranha a ausência, mas continua a respirar o perfume que ainda paira no ar. E num dia que sabia ser muito especial para ela, o homem vai-se embora deixando para sempre palavras por dizer.
Longe de tudo, o homem tem um sonho onde confessa à mulher que recorre à crueldade sempre que não compreende como pode alguém gostar de rosas anãs. Haverão mais razões mas ele acorda e apercebe-se que afinal tinha sido um sonho. Aliviado, sente-se revigorado e pronto para continuar o seu cultivo.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

O Jack é que sabia

Graças ao psicótico descubro Kerouac:.
"A Humanidade é como os cães, não como os deuses (dogs vs. gods, get it?) - desde que não fiques louco, eles mordem-te - mas fica louco e nunca serás mordido. Os cães não respeitam a humildade e o arrependimento.", Jack Kerouac dixit

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Crime, dizem eles

“Quando toda a possibilidade do desejo é usurpada pela propriedade privada, a usurpação da propriedade privada é a única possibilidade de reapropriação do desejo. Contra o crime injusto, o justo crime (...) porque no mundo invertido do dinheiro, só os que se adaptam à podre tranquilidade que se ergue sobre o caos da vida de biliões e biliões de marginalizados, estão ao abrigo da lei.”
in, “Manifesto pela associação internacional dos amigos do crime e do pecado, inimigos do castigo. Sejamos todos perigosos sociais!”, Ilana e Emiliano

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Terror na auto-estrada

Pode ser que já vos tenha aparecido ou venha a aparecer na caixa de mail. Trata-se de uma sequência de imagens chocantes de um géninho (GNR) acocorado junto a um aparelho caça-multas (radar de velocidade), escondido atrás de um pilar de um viaduto sobre a A1, algures ali para as bandas de Leiria.
Deveria ter eu uns 3 ou 4 anos, lembro-me de uma vez, numa estrada de província, onde muito raramente passava um ligeiro de passageiros, lembro-me do meu pai ter passado sem parar o carro (um lendário Ford Capri) no sinal STOP de um cruzamento, tendo tomado antes, naturalmente, precauções sobre se efectivamente viria algum tractor ou carroça a passar, tarefa facilitada pela boa visibilidade do local. Logo de imediato, 20 metros mais á frente, saltaram dois géninhos de trás de uns arbustos e puseram-se no meio da estrada. A cena foi ridícula, com a minha avó nos bancos de trás num histerismo indiscritível, como se nunca tivesse visto um géninho ao vivo (se calhar não), e os cabr*es ainda a multarem o meu pai por ter o carro com os pneus carecas e com o escape livre (coisas absolutamente normais no pós 25 de Abril). Ora, a julgar pelas imagens denunciadas no mail que mencionei, géninhos escondidos à coca da multa é mal que ainda persiste, mau grado o passar das gerações. Não consigo imaginar imagem mais degradante da condição humana que ver um ser humano á espera que outro semelhante, cometa um ‘erro gravíssimo’, seja apanhado com o pé na argola (no caso, acelerador), para depois lhe saltar hipocritamente em cima. É do mais mauzinho que há no espirito português. Deveria a Guarda ser obrigada a colocar avisos: "Géninho embuscado sorrateira e ignobilmente á caça de multa a 2 KM". Só os estúpidos ou os que se estão cagando para as multas porque têm papel e estão habituados a pagá-las, só esses seriam apanhados. E como há muitos estúpidos, o fluxo de receitas não seria afectado, pelo menos no curto prazo, fazendo-se justiça. Os estúpidos que paguem a crise, sempre disse! Porque não penalizar esta raça com estes e outros impostos, para que tendencialmente fosse extinta, e a seguir passar-se à penalização fiscal de outras pragas, uma purga à grunhice, à ignorância, ao lambe-botismo, ao filho-putismo, ao chico-espertismo e ao corta-unhismo (o pessoal que corta as unhas nos transportes públicos!) ? Este país é uma miséria e não é preciso ser-se nenhum Victor Hugo para o escrever. Precisava da implementação destas e de outras medidas estruturais urgentes que visassem atacar aquilo que verdadeiramente enferma o dia-a-dia do país real e que se tem vido a fossilizar perigosamente na mentalidade portuguesa.
Outra cena macabra, que agora me ocorre, aconteceu no verão passado. Um espanhol montado num jipe, farto de estar na fila de uma auto-estrada, galgou o fosso separador central e mudou de faixa. A cena passou com grande alarde no telejornal da SIC como exemplo de condução perigosa(!!?), com direito a várias repetições e com o Rodrigo Guedes de Carvalho chocado, quase a apelar ao Presidente da República para condecorar o gajo qualquer, português de gema, que de camera de vídeo em punho, filmara tudo, com direito a ZOOM obsceno para a matricula do espanhol. Se isto fosse um país como deve de ser, o voyeur bufo veria a camera apreendida, era obrigado a pagar ele a multa em quadriplicado e o nuestro hermano convidado a fazer uma palestra no CCB sobre condução todo-o-terreno. O raio do espanhol podia ser espanhol mas como não tinha a tolerância preguiçosa nem a pachorrice doentia dos lusitanos, obviamente não estava para estar ali a pastar horas e horas até que a pôrra da bicha andasse. Mudou para uma das faixa do sentido contrário para depois prosseguir por uma estrada secundária ou parar numa área de serviço para beber uma bejeca sem álcool, dando o seu tempo por melhor empregue. E fez muito bem! E assim toda a gente o deveria fazer, sempre que houvesse uma bicha, essa chaga civilizacional dos tempos modernos! Infelizmente neste país ninguém muda de faixa, obedece-se a tudo, suporta-se tudo ordeiramente sob o manto dum civismo falso e cobarde. E como não bastasse, ainda se paga portagem.
Não resisto a referir ainda outra obra da grande casa géninha lusitana, com direito a filmagem e passagem repetida por inúmeras vezes no telejornal da SIC com a benção novamente de São Rodrigo, padroeiro dos bons condutores. Um carro géninho, á paisana como não podia deixar de ser, começa a perseguir impiedosamente o carro de um pacato cidadão que apenas seguia com pressa. A pressa rapidamente se transforma em alta velocidade e depois em condução perigosa. E só tinha que terminar mal esta infeliz sequência. Imaginem de repente terem no espelho retrovisor do vosso bólide, um carro conduzido por uns gajos quaisqueres de bigode a tentarem colar-se a vocês. É natural que o pânico vos invada, que vos venha á memória filmes como “Terror na autoestrada” ou o “Encontros Imediatos do Terceiro Grau”. Naquela situação, acelerar é a única solução. A perseguição terminou com o despiste do carro perseguido e quiçá, a condecoração dos heróicos agentes da autoridade... Mais chapa importada do Japão para a reparação, mais tempo perdido em burocracias de seguros, mais uma entrada no hospital com ferimentos ligeiros, mais um trofeu para a colecção de candid-cameras da GNR, mais uns preciosos minutos de grande informação para a SIC, mais uma razão para nos deixar a todos indignados.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Quando azeda

A multidão saudou efusivamente a promessa de viagra à borla para todos."
- Quando fazes amor estás a gastar energia; e a seguir sentes-te bem e estás-te lixando para o resto. Eles não suportam que uma pessoa se sinta assim. Querem que estejamos sempre cheios de energia. Toda esta treta de andar cá e lá a dar vivas e a agitar bandeiras é simplesmente a forma que o sexo toma quando azeda.
"
in, 1984, George Orwell

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

As flores (série Histórias Infilmáveis)

Um homem vive o drama permanente de alguém que não consegue fazer estalar as norças dos dedos. Até que certo dia, numa esplanada à beira estrada nacional, conhece uma mulher que era capaz de recitar, sem mexer os lábios, um poema escrito com os olhos fechados. Além disso, a mulher tinha um assobio que se ouvia a vários litros de distância e gostava de mastigar aloe vera esmagada em cubos. O homem estava tão satisfeito e tão automaticamente apaixonado que se pôs a balir, e como tal, correu os jardins mais próximos em busca de flores viçosas para comer. A mulher ficou à sua espera na esplanada e entretanto mandou vir mais um empregado de mesa bem passado. Surgiu de imediato um prato de tremoços com o pedido, que a atendeu melhor que o prato de caracóis, e por isso mereceu melhor gorjeta. A espera pelo homem que tinha ido ás flores e nunca mais vinha, era visível no rosto dum mendigo que pedia boleia aos carros que seguiam no sentido contrário daquele para onde queria ir. Mas ninguém notava.
O homem procurava flores por toda a parte e com o passar do tempo perdera a fome e parara de balir. Na realidade havia um silêncio sepulcral por todo o seu aparelho digestivo. Resolveu que apanharia as flores não para comer, antes para as oferecer à mulher, um sinal do seu amor. Imaginava-a sentada à sua espera e isso excitava-o. Felizmente viu ao longe um lindo canteiro de flores de todas as cores e feitios. Ele sempre preferira flores com mau feito e daí os cravos serem a sua preferência. Reparou no entanto que o canteiro era guardado por dois crocodilos fêmeas que estavam entretidos a comer o poeta que escrevera o poema de olhos fechados. Aproveitando que comiam deliciadas uma estranha genitália, o homem esgueirou-se e apanhou para dentro do bolso das calças o maior número possível de flores. Mas subitamente picou-se num espinho de rosa e gritou f*da-se, o que provocou uma reacção estranha nos crocodilos. Um deles começou a transformar-se num crocodilo macho e o outro engasgou-se. Surgiu um terceiro, que seria hermafrodita, com uma tesoura numa das mãos e uma palmada nas costas na outra. O que se passou a seguir o homem não sabe porque entretanto apanhara boleia duma antiga combatente da grande guerra dos sexos. Durante o caminho contou-lhe como tinha sobrevivido ficando sempre por cima, as camas que tinha conhecido, as peças de roupa que tivera que deixar para trás... O homem parecia conhecer aquele nariz de algum lado, assim como o sabor daquele perfume.... Mas, com a conversa, tinha adormecido e sonhado que estava a chegar à esplanada onde a mulher o esperava fielmente sentada de cócoras. Subitamente o homem acordou e realmente tinham chegado sim senhor. O mendigo que pedia boleia agarrou-o por um braço e puxou-o pelo canudo do depósito da gasolina pelo que as flores ficaram num estado pior que ele. O carro voltou para trás pelo mesmo caminho, agora com os dois ocupantes que felizes cantavam uma musica chamada piloto automático que há muitos anos era utilizada como escape livre.
O homem pegou nas flores e dirigiu-se até à esplanada onde havia um fogo de artificio que formava as palavras esplanada deserta. Parecia que tudo se tinha evaporado, restando apenas as mesas, as cadeiras, e umas cascas de nós que pareciam ter ali sido estrategicamente deixadas ao acaso. Sentiu vontade de ir à casa de banho mas não viu a porta dos homens. Apercebeu-se que não existiam nem portas nem paredes, nem pneus de automóvel ou postes de electricidade. Chamou pela mulher mas como não sabia o seu nome ficou calado. Então ao longe começou a ouvir-se um assobio misturado com o barulho dum motor a diesel que parecia afastar-se cada vez mais. Passou as mãos pela cabeça e rezou para que começasse a chover tónico capilar. Atirou com as flores para dentro das goelas dum porco com peste suína que já ali estava há 5 minutos de boca aberta e fez uma derradeira tentativa para fazer estalar as norças dos dedos. Talvez aquele barulho fizesse abafar o som do assobio que entretanto se tinha transformado numa grande e invisível dor de cabeça. Como não conseguia, montou-se em cima do porco e premiu o botão start. Numa arriscada manobra de marcha atrás, viu-se cara a cara com o poeta que escrevia poemas com os olhos fechados e que entretanto se tinha transformado num estivador sem pernas nem genitália mas de olhos semi-abertos. O porco, reconhecendo-o, vomitou de imediato uma jarra de flores e desfez-se em elogios e foi preciso chamar a empregada da limpeza para apanhar aquilo tudo para dentro dum balde amarelo em forma de alicate. O estivador carregava ás costas um best-seller que o homem se prontificou a ajudar a rasgar. E assim o fizeram até não terem mais forças, nem sequer para pensar no dia de amanhã.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Tarde de mais (reloaded)

Daqui a pouco vou fazer mais uma tentativa para descobrir o sentido da vida.Há pessoas que, parece-nos a nós, estão sempre á beira de “qualquer dia cometerem uma loucura”. Não falo daquelas que fazem dos sapos a sua dieta diária, que heroicamente se contêm e não vão às trombas a quem merecia. Falo daquelas pessoas que facilmente podemos imaginar no alto do Empire State Building a dizerem "Adeus mundo cruel!". Esse tipo de pessoas que no fundo só dão preocupações, são umas chatas do caraças, só querem atenção e mimos que muitas vezes nada fazem para merecer, e apesar dos constantes e dramáticos queixumes e choradeiras, é vê-las renascer para a vida depois de recorrerem a pequenos elixires da felicidade, como podem ser por exemplo uma bugiganga comprada em qualquer loja dos trezentos ou o assistir a mais um episódio da telenovela.
Eu devo ser do tipo de pessoa que talvez se suicidasse, talvez possa transmitir essa sensação a quem me conhece superficialmente... ou mais ou menos superficialmente também... quem sabe, profundamente.... Mas apesar das probabilidades disso acontecer serem razoáveis (0,00000016011971%) asseguro a mim mesmo que jamais acontecerá. Aliás, escrever ajuda muito as pessoas do meu tipo. Quem sabe quantos milhares de suicídios terá evitado o Blogger! Ou pelo menos adiado. E além do mais o suicídio é um cocktail obsessivo de desespero e coragem que jamais seria capaz de beber. E por outro lado, gosto demasiado de donuts para deixar que semelhante ideia utilize os recursos de sequer um dos meus preciosos neurónios.
Lembro-me de um apresentador da TVI que há uns anos atrás se atirou da ponte sobre o Tejo abaixo. Certamente pertenceria ao grupo daqueles que nunca ninguém iria imaginar... São esses os que constituem o principal grupo de risco, os que não recorrem aos ombros dos amigos, às lojas dos trezentos, à linha SOS suicídio, os que, enganados, se têm por inúteis, que julgam já terem lido e visto tudo ou não haver mais nada a aprender, os que sofrem verdadeira e interiormente angustias inimagináveis sem o demonstrarem aos outros, os mais sozinhos do mundo, os que realmente são capazes de transformar a própria existência em algo de irresolúvel, a vida em algo de “tarde de mais”.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Fwd’s

I.

1) Vá a www.google.pt
2) Escreva ou copie daqui: weapons of mass destruction.
3) Não carregue em Search!!
4) Em vez disso, fazer click em "Sinto-me com sorte"
5) Ler a mensagem de erro com muita atenção!


II.
Uma petição para forçar a A.R. a debater e acabar com esse escândalo vergonhoso que é alguém, só porque é ou foi deputado, ter direito à reforma mais cedo que os pacóvios (eleitores) que votaram nele. Assine aqui.
III.
"
Os políticos são como as fraldas.
Devem ser trocados constantemente e sempre pelo mesmo motivo.

"
IV.
Uma das mais espectaculares acções terroristas (militares) de sempre dos Estados Unidos, cujo resultado pode ser visto aqui.

Fight Clubs

Num claro voltar à normalidade que já tardava, após o fatídico acontecimento do anterior fim de semana, o fugaz episódio de foirada de meia noite do passado jogo de futebol em Guimarães, entre a equipa local e o Boavista, veio mais uma vez demonstrar o calibre do futebol português e constituiu um excelente teste à qualidade do mobiliário multiuso que equipa os nossos novos estádios de futebol. Temos justificados motivos para estar orgulhosos daquelas cadeiras em plástico, reforçadas com fibra de vidro, e que, como todos vimos, apesar de arremessadas violentamente contra o chão e até contra os árbitros, não se partiram ou racharam sequer.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Turismo google: à descoberta de um país

Portugal, país hospitaleiro

500.001 ...
500 mil afectados pela fibromialgia, o síndroma de fadiga crónica.
500 mil incontinentes
500 mil diabéticos
500 mil com disfunção eréctil
500 mil asmáticos ou com rinite alérgica
500 mil casais inférteis
500 mil depressivos
500 mil alcoólicos
499.999 ...

Somos só 10 milhões! Poucos mas... doentes.

Fonte: sites da internet, via motor de busca.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Avé Morpheus! (reloaded)

Deixa-me chonar agora só meia horita, querida.A coisa mais importante do mundo é o sono, condição primeira para se atingir qualquer objectivo honesto na vida ou não se estar constantemente a abrir a boca. Um santo sono, é meio caminho andado para depois estarmos bem acordados. Como convém, é preciso ter previamente vontade de dormir ou até mesmo força de vontade para dormir. Infelizmente, por todo o lado, faz-se a apologia dos pouco dormidos e mal acordados. O sono dos outros é o maior dos impecilhos ao progresso das grandes contas bancárias. A dormir ninguém trabalha nem consome, e vai daí, não adormeçam, ou, melhor, durmam acordados, que lhes contamos umas estórias. É impressionante a lata dum locutor de televisão quando ás 7 da manhã dá os bons dias à malta e deseja que “fique bem na nossa (deles) companhia”. Daí a dez minutos não o vemos e já está o gajo é na boa companhia da boazona nova assistente de realização, escondidos os dois atrás das bobines das telenovelas. Ao almoço, outro locutor é capaz de voltar á carga “que bom que é tê-lo aí desse lado” e um gajo à cotovelada com outros, a lutar por um lugar ao balcão do snack-bar! E à noite, outro, em vez de ser boa pessoa e aconselhar a malta a ir para a cama, promete-nos antes bons filmes e excelentes séries se formos bons meninos e ficarmos acordados até às tantas! Se fossemos na conversa deles e mais o raio c'a parta da TV interactiva, nem precisávamos de desviar os olhos do ecrã para satisfazermos todas as nossas necessidades de consumo e afecto.
Assim como os maços de tabaco têm inscritos aqueles recados medonhos, os programas de TV, depois das 9 da noite, deveriam exibir avisos ao telespectadores incautos, alertando-os para os prejuízos que poderiam advir para a sua saúde física e mental, a longa exposição a uma televisão ligada e com boa imagem, à mais que provável ocorrência de um sono de poucas e mal dormidas horas. E a partir da meia noite, deveriam haver programas especiais dedicados a pessoas com insónias e um canal vocacionado só para sonâmbulos, verdadeiro serviço público de televisão.
Uma noite mal dormida é sempre visível num rosto com ou sem barba, por mais betumado ou bem escanhoado que esteja, por mais “look fresh cream” que se ponha á volta das olheiras. Um rosto radiante e fresco tem muito mais probabilidades de captar a atenção, de brilhar, de encantar, de engatar os outros ou as outras! Ok, ponhamos de parte a conversa maliciosa, as performances sexuais dos que se dizem capazes de estar uma madrugada inteirinha entretidos a não deixar mais ninguém dormir no prédio. Bem aventurados esses ? Tudo bem, há quem seja muito aldrabão, não pregue olho por eventuais boas razões. Mas, e no dia seguinte, como é estar ás 9 em ponto, dizer “bom dia chefe”, cair para o lado e começar a roncar ali mesmo no meio do gabinete ? Mas mesmo o sexo é um elixir do sono. Prova-o os milhares de cartas de leitoras das revistas femininas, que atafulham as páginas dos consultórios sentimentais, queixando-se do sono que os parceiros sentem logo após o “agora é que estava a ser bom”. Uma resposta para todas elas: “Não sabem o que perdem.” Haverá sono melhor que aquele, o descanso do guerreiro ? Que mania têm as mulheres de se armarem em consultoras da certificação ISO para o desempenho sexual!
É incrível como é que em pleno século XXI, a meia dúzia de anos de conseguirmos cultivar batatas em Marte, o quão se menosprezem as coisas realmente importantes da vida, como a irradicação da estupidez, onde pára à noite a Marisa Cruz, ou os segredos dum sono bem dormido, essa atmosfera essencial sem a qual a vida acordada seria ainda mais irrespirável.
Truque para adormecer bem e dormir mais ou menos bem:
Coloque-se em posição fetal e começar a imaginar cenas completamente impossíveis com personagens nossas conhecidas mas com personalidades adulteradas e altamente inverosímeis: o chefe com bom senso, a colega do lado sem saltos altos, o colega da frente sem gel no cabelo, o vizinho sem dívidas, a prima com menos 50 quilos, e por aí fora, todos reunidos num ambiente surrealista a la Salvador Dali, a jogarem golf ao pé cochinho com uma bola de raguebi. Neste cenário delirante, no estado de torpor mental em que cada vez mais se encontrará mergulhado, adormecerá antes que alguém enceste a bola.
Dica para ter uma noite descansada
Livre-se de problemas de consciência. Se ainda assim tiver dificuldades, livre-se da consciência.
Estratagema para adormecer, dormir que nem uma pedra e pagar uma factura de luz exorbitante
Todas as noites faça um litro de chá de flor de laranjeira, sente-se em frente a um televisor, tire-lhe o som e vá sorvendo o chá por uma palhinha. No dia seguinte não se esqueça de desligar a televisão antes de ir trabalhar.
Manha para não estar com insónias, preocupado com o dente que vai ter que arrancar no mês que vem
Faça pela vida, tente que a sua dentista seja sua amante. A enfermeira que lhe segurar as mãos enquanto estiver de boca aberta, convém que seja um modelo em part-time da Central Models que esteja de bata branca desapertada e em top-less, e que a empregada que recepcionou a consulta tenha um fraquinho por si. Arranje estes e outros motivos (a empregada de limpeza do consultório, tenha um fetiche por ela), manobras de diversão mental para diluir a angustia no desejo. Terá um sono mais tranquilo.
Artifício para evitar dar voltas na cama à noite
Ame, apaixone-se, desde que não seja por outra pessoa.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Reallity Death (reloaded)

Mas esta gente nunca se tinha apercebido da corda bamba que é a vida ??! O que é que pensam que isto é afinal ? Ok eu falo de boca cheia, tenho-me na mesma consideração orgânica e existencial de uma formiga. No universo, no tempo, ocupo apenas um ínfimo espaço a mais que um insecto. Sempre soube que a todo o momento um pézorro qualquer me pode esmigalhar e sempre vivi bem com isso e também bastante desconfortável às vezes. Falo eu, este ateu incurável, homem de nenhuma fé... Claro que me comovi com a morte do Feher!... Principalmente quando a ouvi anunciada na TSF, quando no dia seguinte de manhã não se falava de outra coisa, quando ouvi os testemunhos, quando repetiram aquela parte dramática do relato atá então igual a tantos outros. Mas daí a ter pesadelos, a entrar em depressão, a ficar em transe a olhar para as incontáveis repetições daquela morte na televisão, daí a ganhar uma nova ou perder qualquer perspectiva de vida ?!!...
For god sake, não entremos em histerismos, sejamos razoáveis, guardem os vossos Klennexs para outras alturas, que infelizmente a todos calham. E a morte pode ser assim, exactamente como foi naquele Domingo à noite, dum momento para o outro. Nada fotogénica, portanto. Mas também se pensarmos que neste momento meia dúzia de células com mau feitio podem muito bem estar rebelar-se algures nas entranhas do nosso corpo para nos lixar a vida, sem que sonhemos com tal, não será isso que fará com que fiquemos mal no retrato. É "simplesmente" o que pode realmente acontecer a qualquer organismo vivo com pelo menos uma célula viva! E vamos andar f*didos por causa disso ? Claro que não! Estamos é mal habituados. Em televisão nunca assistimos aos momentos derradeiros duma vida real. Nas notícias vídeo da vida real, vemos o antes e, maioritariamente, o depois, algo que é sempre mais um "reallity show" obscenamente espectacular que algo realmente dramático. De entremeio, intenções, movimentações de tropas, outras manifestações pirotécnicas, a destruição mais material que humana, a realidade mantida a grande distância, como prova o telecomando da televisão, como prova a ilusão de Poder na qual todos nos viciamos.
Aguentemo-nos à bronca porque tudo vai continuar na mesma depois do minuto de silêncio.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Oportunidades perdidas #1

Bons velhos tempos.Situada na margem sul do Tejo, no Concelho do Montijo, a freguesia da Atalaia parece mergulhada numa terrível angustia. Já lá vão os tempos em que da fonte da aroeira, local da aparição de Nossa Senhora, brotava aquela água milagrosa que muito mal matava, do corpo e do espirito, tantas aplicações teria, desde curar calos até expulsar teimosas solitárias, e maus cheiro e feitios. Agora, segredo bem guardado, é aguinha 'del cano' que alimenta a fonte, outrora local de peregrinação diária para muita gente das muitas freguesias em redor.
Poucos saberão do gato que, anualmente por alturas das festas da Nossa Senhora da Atalaia, é vendido por lebre. Muito devoto por aquela altura de foguetes e farturas, ainda ali vai lavar-se e recolher o ainda afamado liquido. Mas a verdade, e como conta convicta habitante da terra da qual não vi a mínima razão para desconfiar da sua honestidade, a verdade é que não mais correu a água milagrosa desde que em 1962 a câmara municipal ali decidiu aprumar o espaço, dar-lhe outro ar mais asseado, como só as câmaras da área provinciana de Lisboa sabem dar. Construído monumento, onde pontifica um cone cuja utilidade ou razão de ser, qual monólito à boa maneira Kubrickiana, é mistério dado a muita especulação, a fonte secou de forma não menos milagrosa, e logo se tratou de ao cimento acrescentar a necessária canalização para que gota não faltasse nos meses de parca pluviosidade. E lá está aquela poça de água insalubre, de contornos devidamente acimentados, água preta, podre (mas sem cheiro, será milagre ?), apenas o suficiente para o gasto, o gasto, que é "um ou outro maluco que uma vez por outra ainda ali vai lavar a cara ou os pés" fora da época oficial.
Depois de lograda a hipótese de ter o aeroporto como vizinho, depois de muita terraplanagem feita, ter visto embargada estrada fina que ligaria a freguesia mais rapidamente ao Montijo, o habitante da Atalaia lá se vai resignando, desiludido com o seu destino feito de oportunidades perdidas: "Podia ser o culto a este sítio maior que o do santuário de Nossa Senhora de Fátima". A concorrência só podia ser salutar, e quem sabe, os dois pontos de peregrinação criariam sinergias entre si, multiplicando o número de pessoas que rastejam e o consumo de cera per capita, servindo de inspiração maior a outras localidades do país para que tivessem, também elas próprias, as suas aparições e locais milagrosos de culto, um importante factor para o desenvolvimento económico das regiões. No caso da Nossa Senhora da Atalaia, que apareceu sobre a aroeira, havia no entanto a vantagem de não existir prova testemunhal humana da aparição, coisa que, (vidé os três pastorinhos) como é sabido, nestas situações só atrapalha, levanta polémicas e climas de suspectione sobre a sanidade mental dos intervenientes, a sua vulnerabilidade e capacidades intelectuais, calunias inoportunas que perduram para sempre.
Na Atalaia, apenas uma lenda e, até há pouco tempo, uma prova testemunhal hídrica, a comprovar a breve e inglória estadia da virgem. E com a secura que os Espanhois impõem aos nossos rios, nada me admirava que tivessem feito o mesmo a esta fonte santa, secando-a, desviando a sua preciosa água milagrosa para irrigar os seus laranjais. Mal empregada água.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Muitas vezes os filhos da puta têm razão* (based on true storys)

1. Um gajo qualquer com pressa vai no seu automóvel atrás de outro que vai a 40 à hora numa recta com 50 Km mas que, vá lá saber-se porquê, tem um traço contínuo. Não vindo carros no sentido oposto, o gajo com pressa passa o traço contínuo e ultrapassa o outro que fica indignado e começa a buzinar até mais não.
Quem é o filho da puta que tem toda a razão ?

2. Um gajo qualquer com pressa vai atrás de outro que parece fazer questão de acelerar quando há uma recta sem carros no sentido oposto, e des-acelerar quando surgem carros que impossibilitam a ultrapassagem legal. Há já uma hora nisto, farto desta merda, o gajo com pressa decide ultrapassar pela direita, pela berma, atirando com terra para cima do parabrisas do outro que fica a buzinar até mais não.
Quem é o filho duma grande puta que tem toda a razão ?

3. Numa enorme fila de trânsito, há cerca de meia hora que um gajo qualquer com pressa tem o pisca aberto tentando mudar para a faixa à sua direita, que anda melhor. Repara que tem finalmente oportunidade porque o carro mais próximo está 100 metros atrás em marcha lenta. Quando começa a fazer a manobra, o animal vem lá detrás todo acelerado mas tem que fazer uma travagem brusca porque o outro com pressa meteu-se á frente. Insatisfeito, fica a buzinar até mais não.
Quem é o grande filho duma grande puta que tem toda a razão ?

* Á luz do Código da Estrada, da Lei.

terça-feira, janeiro 20, 2004

Olh'ó passarinho


- Os pais da Zézinha vão-se divorciar.
- Não me digas!...
- É verdade. Mas pelo menos já lhe compraram o telemóvel com câmara fotográfica que lhe tinham prometido.

Apelo á nação

"Faz barulho”: Inscrição luminosa na parte frente de um camião. (in, estrada de Fernão Ferro)

segunda-feira, janeiro 19, 2004

A água é um bem essencial para o green que, como se sabe, é um organismo vivo como outro qualquer

Não sei se existem estatísticas sobre o assunto mas arrisco escrever que a Quinta do Lago, no Algarve, será o local do planeta onde se gastam mais metros cúbicos de água por habitante. Não é que aquele tipo de habitante exagere no duche. Serão antes as características daqueles solos permeáveis, antes os campos de golfe e os jardins luxuriantes que circundam as casinhas pouco habitadas, autênticos sorvedouros.
Talvez bem ciente disto e imbuído dum espirito ecológico, o habitante da Quinta, á saída da mesma, para além do agradecimento pela visita, escrito num lindo placard, logo abaixo não deseja boa viagem mas faz um apelo: “poupe água”. Fiquei sensibilizado. Compreendamos, deve ser chato falhar um buraco porque a bola não rolou bem num naco de relva seca, porque faltou água ao green, porque algures houve quem não a poupasse.
Acho que vou deixar de regar o meu “bonsai” diariamente e passar a fazê-lo só de dois em dois dias. Custa a todos.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Albufeira ir'ai gou! (Post Especial: Collectors Edition)

40% é a percentagem de homens portugueses que recorrem a prostitutas, segundo uma sondagem qualquer. Não vejo motivo para tanto alarde. Lá que mais metade dessa malta não use preservativo, isso sim é preocupante. Quanto à percentagem de clientela, o número pecará por defeito, estou em crer, tal é a avalanche de pequenos anúncios, chats, webcams, páginas de teletexto, clubes de swing, bataclãs, sites institucionais de empresas de escort girls, fortes indícios eróticos de uma forte procura e uma cada vez maior oferta, uma dinâmica de mercado que não deixa ninguém indiferente. E onde se lê erótico, leia-se pornográfico, onde se lê oferta, leiam-se mulheres de todas as nacionalidades, desde matulonas brasileiras a frágeis meninas asiáticas, passando por esculturais moçoilas dos países de leste. Ponto comum a todo este gajedo, um sotaque... E é aquele excitante tipo de sotaque, de quem se nota fazer um esforço tremendo para se adaptar á nossa complexa língua mãe, é aquela pronuncia erógena (embora um “Ai Xim, xim, num pairisze, maisze, maisze!...” beirão também terá que se lhe diga!) que faz o predador lusitano esquecer a fauna autóctone e recorrer sistematicamente a serviços pagos em euros. A verdade é que, graças à imigração, temos sido assaltados ao vivo por um novo tipo de mulher, aquele tipo que só julgávamos encontrar nas revistas que nas bancas estão sempre seladas a plástico ou nos calendários da parede da oficina do nosso mecânico. Com a chegada duma nova geração de gajedo estrangeiro, principalmente de leste, o rapazola português passou a ter permanentemente á sua disposição mulherio até então geograficamente inacessível, o tipo de mulher estilo gaja mesmo mesmo boa, muito diferente do produto aproximado, as sazonais nórdicas peles vermelhas, as quais há já muito que nem com os copos íamos. Actualmente não há bar de alterne que não apresente orgulhosamente o seu momento de strip-tease com variadas atracções internacionais, enquanto a esse nível o produto nacional arrasta-se pelos pouco rentáveis mas não menos dignos peep-shows.
É certo que as portuguesas são tão boas ou melhores que as outras. Mas é igualmente certo que o homem português padrão está a muitos suspiros luz dos ideais de beleza masculina que elas anseiam. Não temos a barba por fazer do Viggo Mortenson, os olhos de puto reguila do Tom Cruise, a farta cabelenga do Brad Pitt, a espiritualdiade do Woody Allen ou a conta bancária do Michael Douglas (antes de se casar com a Catherine) e muito menos somos príncipes Albertos. São por estes sucessos de bilheteira que elas suspiram. Delas, o vulgar portuga só recebe indiferença, demonstrações evidentes da máxima antes sós que mal acompanhadas, antes um sonho milionário que uma realidade com caspa ou mau hálito. E não raros são os casos de gajas mesmo mesmo boas portuguesas que conhecem os aeroportos e hotéis de meio mundo melhor que as Docas. A verdade é que a mulher portuguesa boazona e sofisticada (as duas coisas ao mesmo tempo) é cada vez mais inacessível ao comum mortal e ainda por cima teso lusitano. Ao contrário das outras, as boazonas e desanuviadas estrangeiras que se mostram muito mais acessíveis e receptivas a qualquer cartão de crédito, mesmo de baixo plafond.
Qualquer gajo que tenha a má sina de não ter nascido com charme, status, com o cu virado para a política ou para o show-bizz, que não tenha 40 ou 50 anos bem sucedidos e conservados, ou simplesmente não seja sócio dum clube de golfe, não está em condições de açambarcar modelos, actrizes, jornalistas e outras gajas boas topo de gama por enquanto ainda anónimas, que as há por aí aos molhos, à espera de alguém que lhes faça um back spin como deve ser.
O vulgar português se quiser ter acesso à companhia estimulante de uma gaja mesmo mesmo boa, tem mesmo mesmo que pagar ou então dar uns saltinhos ocasionais ao Algarve ou a outras zonas turísticas (Sesimbra, Costa da Caparica, Bairro Alto...) onde felizmente, mesmo em época baixa, ainda abundam estrangeiras sem fins lucrativos em busca do mito do homem latino: “Élou, ai meique colectione ofe neimes ofe biutiful uimines. Uóte ize iour neime darelingue ?”. Esta nunca falha(va)!

terça-feira, janeiro 13, 2004

O Samuel não sabia

"Após um silêncio tão longo, um grito débil, logo abafado. É impossível saber que género de criatura o soltou e continua a soltar, se é que é o mesmo, de longe em longe. Seja como for, não é um ser humano, aqui não há seres humanos, ou, se há, deixaram de gritar. A culpa será de Malone ? Será minha ? Não terá sido apenas uma simples bufa, há-as tão pungentes ?", Beckett, in "O Inominável" (Assírio & Alvim)

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Notícias do Espaço (Deus, patrocinador oficial)

Helena debita a lengalenga do costume para o diário de bordo, uma maquineta muda com luzinhas, como não podia deixar de ser. É o mote para mais um início dum episódio do Espaço: 1999 – 2ª Série.
A Sylvia farta do Gerry Anderson (casal que na vida real produzia o Space 1999) pediu o divórcio e quem se lixaram foram os fãs dos até então 24 episódios (1ª série). Pior sorte tiveram o professor Bergman, Paul, Kano e Dr. Mathias, que perderam o ganha pão, simplesmente desapareceram dos novos episódios sem explicação e jamais será feita uma alusão aqueles heróis (sei lá, por exemplo, o Koening num ataque de nostalgia podia dizer para o barbeiro da base lunar "Hoje faça-me um corte á professor Victor Bergman!"). Dos restantes ilustres, Sandra é agora tratada por "Sahn" e muitas vezes substituída por uma chinesa qualquer, e Alan tem uma presença irregular.
As histórias giram á volta dos casalinhos Koenig e Helena, Tony e Maya. Imaginem o Dallas passado no espaço... É quase. A Dra. Helena deixou o seu habitual ar impassível estando agora mais assanhada. Continuo a conseguir imaginá-la de lingerie e saltos altos, mas vejo-a também com um chicote na mão, o que é assustador e não faz o meu género. A recente aquisição Tony, como o próprio nome indica, é um ciumento com um sotaque estranho, obcecado pela Maya que por sua vez é mulher para deixar todos os extra-terrestres com água ou qualquer liquido similar na(s) boca(s). Os sacanas têm bom gosto. O Koenig, como já não anda mal encaminhado pelo desgadelhado Bergman, agora anda sempre penteadinho com risquinho ao lado.
Mas as alterações não se ficaram por aqui. O novo produtor americano, um tal de Freiberger, mudou a musica e o genérico iniciais e alterou radicalmente o cenário do Centro de Controlo, tornando-o mais claustrofóbico e banal. Elas agora usam saias, eles camisas com gola e casaquinhos.
Felizmente mantiveram-se os realizadores e técnicos, e algumas histórias são muito bem apanhadas, contendo diálogos de antologia, como este entre Koenig e um gajo que se materializa em pleno Centro de Controlo da base lunar Alfa, auto-intitulado de o Criador:
KOENIG: "Quem é você ?"Só uso o bigode assim para agradar a Maya!
(DEUS?):"Sou o vosso Criador."
DR. EVIL: Right!!!!.... (vide "Austin Powers")
(DEUS?):"Tudo bem, não precisam de se ajoelhar para me adorarem."
KOENIG: "Não é esse o nosso estilo."
(DEUS?):"Está a duvidar das minhas credenciais ?"
KOENIG: "Ainda não apresentou nenhumas."
(DEUS?):" Oh, não o censuro. Todos essas mui imaginativas obras de ficção a que vocês chamam de religiões, repletas de falsos deuses, atrofiaram-vos a mente. No entanto, asseguro-vos que eu sou aquilo a que se pode designar por artigo genuíno.”
ESPECTADOR, EU: Sim sim, e eu sou o Napoleão! Espetem-lhe já com um raio laser no focinho!
(DEUS?):"Vocês terrestres sempre foram a mais céptica das minhas criações."
KOENIG: "É a nossa maneira de ser. Já devia saber isso.."
(DEUS?):"Cépticos, cínicos, ruins.... Talvez por isso sempre tive um fraquinho por vocês..."

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Para acabar de vez con el dia dels reys

Apesar de unanimemente celebrados como três gajos ricos e porreiros que ficam sempre bem em qualquer postal de natal ou quadro da Idade Média, acredito seriamente que por detrás do aspecto pachorrento dos reis magos, esconde-se algo de muito pouco nobre.
Os historiadores interrogam-se sobre se realmente teriam existido tais figuras patéticas, e a terem existido, por que raio teriam três majestades de longínquas e mal identificadas paragens que se supõe seriam lá para as bandas do actual Iraque e Irão, o que teria feito três árabes, muçulmanos portanto, deixado os seus ricos haréns, o conforto dos palácios das mil e uma noites, outras tantas odaliscas, por uma longa caminhada de camelo por desertos alheios ? Azia ? Falta de apetite sexual ? Penso que existirão sérias razões para se duvidar daquela espécie de altruismo. Não nos esqueçamos da comprometedora paragenzinha documentada, no palácio de Herodes. Não só pararam para atestar os camelos como também para encher os ouvidos do palhaço anfitrião que lhes terá implorado para que quando descobrissem em que palheiro nascera o messias, lhe viessem logo contar que também lhe queria ficar nas boas graças. Ao que parece, os tipos não bufaram, daí o maluco ter entrado em histeria e mandado matar aquela carrada de putos a torto e a direito. Centenas, talvez milhares de inocentes, sacrificados em nome de um. Deve ser difícil para alguém crescer sabendo disto.
Mas o trio não deu com a língua nos dentes, não se evitando infelizmente o morticínio, porque talvez tivesse ficado convencido de que sortiriam efeito as suas “prendas”. E que prendas levavam aqueles antepassados dos homens bombas dos nosso dias! Analisemos à luz da moderna ciência o que estes três amigos ofereceram ao puto Jesus. Chupetas, fraldas, biberões, bonequinhos da Chicco, leite em pó ?... Nada disso. É certo que também não lhe ofereceram um saquinho cheio de urânio empobrecido, mas terá sido por falta de lembrança ou então um quarto rei mago que por descuido se ficou pelo caminho. Mas o que ia nos alforges daqueles três já bastava para cumprir o objectivo: levar o caos e a destruição á família do velho José. Analisemos as nefastas prendas:
Ouro: Existirá metal mais vil, que mais sangue tenha derramado, maior símbolo do materialismo e da cobiça ? É óbvio que não. De todas as prendas oferecidas pelos três maléficos, esta era de longe a pior e mais perigosa. O reluzente ouro ao menino nada entretia e só nos bolsos dos adultos que o circundavam fazia jeito. José, tutor legal, ter-se-á apropriado do ouro com o qual terá subornado meia dúzia de pastores para que não dissessem quem ali tinha parido, liquidado alguns calotes e... Havia que dar ao cava dali para fora, que já se ouviam zunzuns da façanha do Herodes. O que terá feito José ao resto do ouro não deve ser difícil de adivinhar. Ainda não tinham sido inventadas as slot machines nem o bingo mas já naquele tempo perdições havia capazes de fazer derreter ouro e a evolução do homem era tão lenta que as tentadoras medidas do mulherio de então não era nada diferente das actuais. Que se saiba, apesar do ouro, nunca foi família que experimentasse os prazeres de uma vida desafogada, da vida num condomínio fechado com vista para a faixa de Gaza, e só alguém saberá com quantos bicos de papagaio terá ficado a mãe Maria de tanto viajar no desconforto dum burro, enquanto até o teso do Ben-hur já treinava em carroças com amortecedores. Que se saiba, não consta que em qualquer museu do mundo se encontre exposta uma pulseirinha ou medalhinha que seja em ouro com as inscrições “Recordação dos reis magos”. Talvez os bancos suíços queiram esconder muito mais do que aquilo que se sabe que escondem.
Mirra: “Mas para que raio quer a gente mirra ??!” poderá muito bem ter sido este o pensamento do afamado carpinteiro (consta que naquela noite fria, depois de ter recebido o ouro, José deixou de ir acartar lenha para a fogueira porque pensou que o melhor das oferendas ainda estaria para vir e começou portanto a esfregar as mãos de contentamento; com tanta fricção aqueceu o ambiente). É que naquele tempo, a mirra era utilizada para fazer mumificações e conservar os corpos mortos. Estou em crer que o plano dos 3 lobos muçulmanos vestidos de cordeirinhos, seria o de com o ouro provocar desavenças conjugais, trazer a discórdia á família sagrada, provocar desgraça homicida. Tudo muito bem embrulhado na mirra, ainda hoje estaria em exposição no Museu de Bagdad e muita guerra se tinha evitado.
Incenso: Caso as duas oferendas anteriores não resultassem, esta seria infalível. A desculpa era queimar o incenso para ajudar a purificar o ar, eliminando o odor nauseabundo a estrume e a sovaco que por ali se fazia cheirar. Mas se nos adultos de caixa toráxica feita, algum efeito faz, imagine-se o que fará a uma criança recém-nascida, ainda com poucos litros de ar passados pelos pulmões, respirar tetrahidrocannabinnol... Perguntem a quem quiserem, esta substancia alucinogénica, como o próprio nome inspira, está presente no incenso sim senhor, e naturalmente que os reis magos já o sabiam, sendo mais que certo que fora a ‘negociar’ tal matéria prima que tinham enriquecido. E esta seria a jogada de marketing que precisavam para impulsionar e levar o conceito de negócio aos cinco pontos do mundo, principalmente, à América Latina.
Resumindo, decapitar o cristianismo à nascença, cannabinar o seu profeta, golpe publicitário ou aliciar a mais famosa das virgens para os respectivos haréns, a verdadeira intenção do três reis é algo que jamais saberemos. Mas a celebração do dia 6 de Janeiro, é apenas mais uma dessas celebrações sem sentido à qual só mesmo os Espanhóis ainda lhe dedicam um feriado.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Mundo perfeito #1

Fere a vista ver filas de gente á espera da sua vez para comprar o passe mensal dos transportes colectivos. É um escândalo o trabalhador/explorado ter que despender a custos próprios as despesas de deslocação para o seu local de trabalho/exploração. Já não basta gastar tempo, horas não remuneradas na ida e volta, como ainda ter que pagar para ir trabalhar, um contracenso inumano grave. Em qualquer país civilizado, o transporte público seria á borla, rápido e de conforto superior. O melhor para quem mantém a Máquina a funcionar. E para quem quisesse ir de carro, portagens a preços exorbitantes, aos dias úteis, nas entradas das cidades.

terça-feira, janeiro 06, 2004

Rédea curta

Não há pessoas acima de qualquer lei assim como não deve haver pessoas ou cargos acima de qualquer suspeita. Que se saiba, nos Ministros, Deputados, Presidentes, Reis, Imperadores, Papas, Cardeais, e por aí fora, quando assumem tais responsabilidades, não lhes ocorre qualquer transformação biológica ou molecular, nenhuma alteração neuronal, não ficam imunes às frustrações, aos desejos reprimidos, à natureza humana, à necessidade de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, se necessário. Já o eram antes e, que chatice, continuam a ser homens, como os outros. E como os outros, podem ser suspeitos se tiverem mesmo que ser! Que se saiba, quando se sentam nos respectivos tronos ou cadeirões, não lhes cai do céu um raio se não forem imaculados, dando-nos certeza absoluta da sua ombridade e garantido-lhes inocência vitalícia.
Os lideres dos nossos tempos têm aliás a agravante de serem exímios políticos modernos. Levam uma vida exercida de politiquice, essa perigosa mutação da verdadeira política, feita de trocas de favores, de jogos de bastidores, de lambe-botismo, de facadas nas costas e muito jogo de cintura. É desta matéria prima que é feito o caminho para o sucesso dos nossos lideres, lógica natural para se escalar hierarquicamente, atingir o poleiro, política moderna, progressão na carreira, anos e anos disto. Logo, não podem ser pessoas normais. Foi gente que preferiu passar as noites em reuniões partidárias, até tarde a planear alianças e tramóias, tácticas para conseguir poder sobre outros homens, em vez de estarem em casa a dar mimos á mulher. Gente que preferiu as companhias dos corredores, dos almoços que nunca são de graça, dos encontros secretos com outros iguais ou a abater, em vez de estarem com as amantes ou com os verdadeiros amigos. Não podem ser gente normal porque foram vítimas e carrascos dos esquemas dum sistema falido mas que ajudam a perpetuar. Sabe-se lá que cordelinhos tiveram que mexer, que lodo tiveram de remexer e, alguns, ingerir para estar nos sítios onde estão. Cada político encartado, que história esconde, o que engoliu, o que terá abdicado, sacrificado, o que terá desenvolvido durante a sua ascensão, que efeitos nefastos terão tido sobre a sua personalidade, o contacto próximo, a vivência quotidiana com o miserável mundo da politiquice dos nossos tempos. Há que andar bem em cima deles, apertar-lhes os calos, rédea curta.

sexta-feira, janeiro 02, 2004

Arrependimento de príncipio de ano

Manguito á chinesa!Super-Inframan aka. The Chinese Superman, foi durante muitos anos o filme da minha vida... Devia ter 5 ou 6 quando vi num cinema aquele que terá sido o tetravô dos actuais inenarráveis “Power Rangers”. Fabricado em Hong Kong “INFRAMAN looked like a giant step above Japanese sci-fi B-movies in the mid-70s. It all came down to an exciting masterpiece containing impressive visuals, plus lightning fast action and choreography the Shaw Brothers were known for. Many see this as a rip-off of the POWER RANGERS, but not many have noticed this movie being around for almost 25 years! It's that good considering its age." (É o IMDB quem o diz!) Nada ilustre como filme da minha vida (terá sido mais o filme da minha infância) mas foi o filme que me abriu definitivamente o apetite pelo cinema e aguçou-me o fascínio pela ficção cientifica. E não fui a única vítima.
Está disponível apenas para a zona 3.
Outra relíquia, Lifeforce aka. “As Forças do Universo” (salvo erro), um filme injustamente esquecido de Tobe Hooper (Massacre no Texas, Poltergeist) que passou muito discretamente pelos cinemas nacionais há uns 15 anos atrás. É daqueles que não passa nem na televisão, nem no clube de vídeo, nem nos sites da internet. Simplesmente desaparecido, DVD só zona 1 mas com 15 minutos de filmagens adicionais. Uma história muito bem produzida por italianos, sobre uns vampiros espaciais cujo passatempo preferido era sugar a ‘força da vida’ de toda a gente que iam conhecendo. Numas cenas algo controversas para a época, Mathilda May aparecia toda descascadinha! Inesquecível! O argumento era de Dan O’Bannon (Alien, Tottal Recall).
Arrependo-me profundamente não ter comprado um leitor DVD multizona.

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