quinta-feira, janeiro 29, 2004

Avé Morpheus! (reloaded)

Deixa-me chonar agora só meia horita, querida.A coisa mais importante do mundo é o sono, condição primeira para se atingir qualquer objectivo honesto na vida ou não se estar constantemente a abrir a boca. Um santo sono, é meio caminho andado para depois estarmos bem acordados. Como convém, é preciso ter previamente vontade de dormir ou até mesmo força de vontade para dormir. Infelizmente, por todo o lado, faz-se a apologia dos pouco dormidos e mal acordados. O sono dos outros é o maior dos impecilhos ao progresso das grandes contas bancárias. A dormir ninguém trabalha nem consome, e vai daí, não adormeçam, ou, melhor, durmam acordados, que lhes contamos umas estórias. É impressionante a lata dum locutor de televisão quando ás 7 da manhã dá os bons dias à malta e deseja que “fique bem na nossa (deles) companhia”. Daí a dez minutos não o vemos e já está o gajo é na boa companhia da boazona nova assistente de realização, escondidos os dois atrás das bobines das telenovelas. Ao almoço, outro locutor é capaz de voltar á carga “que bom que é tê-lo aí desse lado” e um gajo à cotovelada com outros, a lutar por um lugar ao balcão do snack-bar! E à noite, outro, em vez de ser boa pessoa e aconselhar a malta a ir para a cama, promete-nos antes bons filmes e excelentes séries se formos bons meninos e ficarmos acordados até às tantas! Se fossemos na conversa deles e mais o raio c'a parta da TV interactiva, nem precisávamos de desviar os olhos do ecrã para satisfazermos todas as nossas necessidades de consumo e afecto.
Assim como os maços de tabaco têm inscritos aqueles recados medonhos, os programas de TV, depois das 9 da noite, deveriam exibir avisos ao telespectadores incautos, alertando-os para os prejuízos que poderiam advir para a sua saúde física e mental, a longa exposição a uma televisão ligada e com boa imagem, à mais que provável ocorrência de um sono de poucas e mal dormidas horas. E a partir da meia noite, deveriam haver programas especiais dedicados a pessoas com insónias e um canal vocacionado só para sonâmbulos, verdadeiro serviço público de televisão.
Uma noite mal dormida é sempre visível num rosto com ou sem barba, por mais betumado ou bem escanhoado que esteja, por mais “look fresh cream” que se ponha á volta das olheiras. Um rosto radiante e fresco tem muito mais probabilidades de captar a atenção, de brilhar, de encantar, de engatar os outros ou as outras! Ok, ponhamos de parte a conversa maliciosa, as performances sexuais dos que se dizem capazes de estar uma madrugada inteirinha entretidos a não deixar mais ninguém dormir no prédio. Bem aventurados esses ? Tudo bem, há quem seja muito aldrabão, não pregue olho por eventuais boas razões. Mas, e no dia seguinte, como é estar ás 9 em ponto, dizer “bom dia chefe”, cair para o lado e começar a roncar ali mesmo no meio do gabinete ? Mas mesmo o sexo é um elixir do sono. Prova-o os milhares de cartas de leitoras das revistas femininas, que atafulham as páginas dos consultórios sentimentais, queixando-se do sono que os parceiros sentem logo após o “agora é que estava a ser bom”. Uma resposta para todas elas: “Não sabem o que perdem.” Haverá sono melhor que aquele, o descanso do guerreiro ? Que mania têm as mulheres de se armarem em consultoras da certificação ISO para o desempenho sexual!
É incrível como é que em pleno século XXI, a meia dúzia de anos de conseguirmos cultivar batatas em Marte, o quão se menosprezem as coisas realmente importantes da vida, como a irradicação da estupidez, onde pára à noite a Marisa Cruz, ou os segredos dum sono bem dormido, essa atmosfera essencial sem a qual a vida acordada seria ainda mais irrespirável.
Truque para adormecer bem e dormir mais ou menos bem:
Coloque-se em posição fetal e começar a imaginar cenas completamente impossíveis com personagens nossas conhecidas mas com personalidades adulteradas e altamente inverosímeis: o chefe com bom senso, a colega do lado sem saltos altos, o colega da frente sem gel no cabelo, o vizinho sem dívidas, a prima com menos 50 quilos, e por aí fora, todos reunidos num ambiente surrealista a la Salvador Dali, a jogarem golf ao pé cochinho com uma bola de raguebi. Neste cenário delirante, no estado de torpor mental em que cada vez mais se encontrará mergulhado, adormecerá antes que alguém enceste a bola.
Dica para ter uma noite descansada
Livre-se de problemas de consciência. Se ainda assim tiver dificuldades, livre-se da consciência.
Estratagema para adormecer, dormir que nem uma pedra e pagar uma factura de luz exorbitante
Todas as noites faça um litro de chá de flor de laranjeira, sente-se em frente a um televisor, tire-lhe o som e vá sorvendo o chá por uma palhinha. No dia seguinte não se esqueça de desligar a televisão antes de ir trabalhar.
Manha para não estar com insónias, preocupado com o dente que vai ter que arrancar no mês que vem
Faça pela vida, tente que a sua dentista seja sua amante. A enfermeira que lhe segurar as mãos enquanto estiver de boca aberta, convém que seja um modelo em part-time da Central Models que esteja de bata branca desapertada e em top-less, e que a empregada que recepcionou a consulta tenha um fraquinho por si. Arranje estes e outros motivos (a empregada de limpeza do consultório, tenha um fetiche por ela), manobras de diversão mental para diluir a angustia no desejo. Terá um sono mais tranquilo.
Artifício para evitar dar voltas na cama à noite
Ame, apaixone-se, desde que não seja por outra pessoa.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Reallity Death (reloaded)

Mas esta gente nunca se tinha apercebido da corda bamba que é a vida ??! O que é que pensam que isto é afinal ? Ok eu falo de boca cheia, tenho-me na mesma consideração orgânica e existencial de uma formiga. No universo, no tempo, ocupo apenas um ínfimo espaço a mais que um insecto. Sempre soube que a todo o momento um pézorro qualquer me pode esmigalhar e sempre vivi bem com isso e também bastante desconfortável às vezes. Falo eu, este ateu incurável, homem de nenhuma fé... Claro que me comovi com a morte do Feher!... Principalmente quando a ouvi anunciada na TSF, quando no dia seguinte de manhã não se falava de outra coisa, quando ouvi os testemunhos, quando repetiram aquela parte dramática do relato atá então igual a tantos outros. Mas daí a ter pesadelos, a entrar em depressão, a ficar em transe a olhar para as incontáveis repetições daquela morte na televisão, daí a ganhar uma nova ou perder qualquer perspectiva de vida ?!!...
For god sake, não entremos em histerismos, sejamos razoáveis, guardem os vossos Klennexs para outras alturas, que infelizmente a todos calham. E a morte pode ser assim, exactamente como foi naquele Domingo à noite, dum momento para o outro. Nada fotogénica, portanto. Mas também se pensarmos que neste momento meia dúzia de células com mau feitio podem muito bem estar rebelar-se algures nas entranhas do nosso corpo para nos lixar a vida, sem que sonhemos com tal, não será isso que fará com que fiquemos mal no retrato. É "simplesmente" o que pode realmente acontecer a qualquer organismo vivo com pelo menos uma célula viva! E vamos andar f*didos por causa disso ? Claro que não! Estamos é mal habituados. Em televisão nunca assistimos aos momentos derradeiros duma vida real. Nas notícias vídeo da vida real, vemos o antes e, maioritariamente, o depois, algo que é sempre mais um "reallity show" obscenamente espectacular que algo realmente dramático. De entremeio, intenções, movimentações de tropas, outras manifestações pirotécnicas, a destruição mais material que humana, a realidade mantida a grande distância, como prova o telecomando da televisão, como prova a ilusão de Poder na qual todos nos viciamos.
Aguentemo-nos à bronca porque tudo vai continuar na mesma depois do minuto de silêncio.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Oportunidades perdidas #1

Bons velhos tempos.Situada na margem sul do Tejo, no Concelho do Montijo, a freguesia da Atalaia parece mergulhada numa terrível angustia. Já lá vão os tempos em que da fonte da aroeira, local da aparição de Nossa Senhora, brotava aquela água milagrosa que muito mal matava, do corpo e do espirito, tantas aplicações teria, desde curar calos até expulsar teimosas solitárias, e maus cheiro e feitios. Agora, segredo bem guardado, é aguinha 'del cano' que alimenta a fonte, outrora local de peregrinação diária para muita gente das muitas freguesias em redor.
Poucos saberão do gato que, anualmente por alturas das festas da Nossa Senhora da Atalaia, é vendido por lebre. Muito devoto por aquela altura de foguetes e farturas, ainda ali vai lavar-se e recolher o ainda afamado liquido. Mas a verdade, e como conta convicta habitante da terra da qual não vi a mínima razão para desconfiar da sua honestidade, a verdade é que não mais correu a água milagrosa desde que em 1962 a câmara municipal ali decidiu aprumar o espaço, dar-lhe outro ar mais asseado, como só as câmaras da área provinciana de Lisboa sabem dar. Construído monumento, onde pontifica um cone cuja utilidade ou razão de ser, qual monólito à boa maneira Kubrickiana, é mistério dado a muita especulação, a fonte secou de forma não menos milagrosa, e logo se tratou de ao cimento acrescentar a necessária canalização para que gota não faltasse nos meses de parca pluviosidade. E lá está aquela poça de água insalubre, de contornos devidamente acimentados, água preta, podre (mas sem cheiro, será milagre ?), apenas o suficiente para o gasto, o gasto, que é "um ou outro maluco que uma vez por outra ainda ali vai lavar a cara ou os pés" fora da época oficial.
Depois de lograda a hipótese de ter o aeroporto como vizinho, depois de muita terraplanagem feita, ter visto embargada estrada fina que ligaria a freguesia mais rapidamente ao Montijo, o habitante da Atalaia lá se vai resignando, desiludido com o seu destino feito de oportunidades perdidas: "Podia ser o culto a este sítio maior que o do santuário de Nossa Senhora de Fátima". A concorrência só podia ser salutar, e quem sabe, os dois pontos de peregrinação criariam sinergias entre si, multiplicando o número de pessoas que rastejam e o consumo de cera per capita, servindo de inspiração maior a outras localidades do país para que tivessem, também elas próprias, as suas aparições e locais milagrosos de culto, um importante factor para o desenvolvimento económico das regiões. No caso da Nossa Senhora da Atalaia, que apareceu sobre a aroeira, havia no entanto a vantagem de não existir prova testemunhal humana da aparição, coisa que, (vidé os três pastorinhos) como é sabido, nestas situações só atrapalha, levanta polémicas e climas de suspectione sobre a sanidade mental dos intervenientes, a sua vulnerabilidade e capacidades intelectuais, calunias inoportunas que perduram para sempre.
Na Atalaia, apenas uma lenda e, até há pouco tempo, uma prova testemunhal hídrica, a comprovar a breve e inglória estadia da virgem. E com a secura que os Espanhois impõem aos nossos rios, nada me admirava que tivessem feito o mesmo a esta fonte santa, secando-a, desviando a sua preciosa água milagrosa para irrigar os seus laranjais. Mal empregada água.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Muitas vezes os filhos da puta têm razão* (based on true storys)

1. Um gajo qualquer com pressa vai no seu automóvel atrás de outro que vai a 40 à hora numa recta com 50 Km mas que, vá lá saber-se porquê, tem um traço contínuo. Não vindo carros no sentido oposto, o gajo com pressa passa o traço contínuo e ultrapassa o outro que fica indignado e começa a buzinar até mais não.
Quem é o filho da puta que tem toda a razão ?

2. Um gajo qualquer com pressa vai atrás de outro que parece fazer questão de acelerar quando há uma recta sem carros no sentido oposto, e des-acelerar quando surgem carros que impossibilitam a ultrapassagem legal. Há já uma hora nisto, farto desta merda, o gajo com pressa decide ultrapassar pela direita, pela berma, atirando com terra para cima do parabrisas do outro que fica a buzinar até mais não.
Quem é o filho duma grande puta que tem toda a razão ?

3. Numa enorme fila de trânsito, há cerca de meia hora que um gajo qualquer com pressa tem o pisca aberto tentando mudar para a faixa à sua direita, que anda melhor. Repara que tem finalmente oportunidade porque o carro mais próximo está 100 metros atrás em marcha lenta. Quando começa a fazer a manobra, o animal vem lá detrás todo acelerado mas tem que fazer uma travagem brusca porque o outro com pressa meteu-se á frente. Insatisfeito, fica a buzinar até mais não.
Quem é o grande filho duma grande puta que tem toda a razão ?

* Á luz do Código da Estrada, da Lei.

terça-feira, janeiro 20, 2004

Olh'ó passarinho


- Os pais da Zézinha vão-se divorciar.
- Não me digas!...
- É verdade. Mas pelo menos já lhe compraram o telemóvel com câmara fotográfica que lhe tinham prometido.

Apelo á nação

"Faz barulho”: Inscrição luminosa na parte frente de um camião. (in, estrada de Fernão Ferro)

segunda-feira, janeiro 19, 2004

A água é um bem essencial para o green que, como se sabe, é um organismo vivo como outro qualquer

Não sei se existem estatísticas sobre o assunto mas arrisco escrever que a Quinta do Lago, no Algarve, será o local do planeta onde se gastam mais metros cúbicos de água por habitante. Não é que aquele tipo de habitante exagere no duche. Serão antes as características daqueles solos permeáveis, antes os campos de golfe e os jardins luxuriantes que circundam as casinhas pouco habitadas, autênticos sorvedouros.
Talvez bem ciente disto e imbuído dum espirito ecológico, o habitante da Quinta, á saída da mesma, para além do agradecimento pela visita, escrito num lindo placard, logo abaixo não deseja boa viagem mas faz um apelo: “poupe água”. Fiquei sensibilizado. Compreendamos, deve ser chato falhar um buraco porque a bola não rolou bem num naco de relva seca, porque faltou água ao green, porque algures houve quem não a poupasse.
Acho que vou deixar de regar o meu “bonsai” diariamente e passar a fazê-lo só de dois em dois dias. Custa a todos.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Albufeira ir'ai gou! (Post Especial: Collectors Edition)

40% é a percentagem de homens portugueses que recorrem a prostitutas, segundo uma sondagem qualquer. Não vejo motivo para tanto alarde. Lá que mais metade dessa malta não use preservativo, isso sim é preocupante. Quanto à percentagem de clientela, o número pecará por defeito, estou em crer, tal é a avalanche de pequenos anúncios, chats, webcams, páginas de teletexto, clubes de swing, bataclãs, sites institucionais de empresas de escort girls, fortes indícios eróticos de uma forte procura e uma cada vez maior oferta, uma dinâmica de mercado que não deixa ninguém indiferente. E onde se lê erótico, leia-se pornográfico, onde se lê oferta, leiam-se mulheres de todas as nacionalidades, desde matulonas brasileiras a frágeis meninas asiáticas, passando por esculturais moçoilas dos países de leste. Ponto comum a todo este gajedo, um sotaque... E é aquele excitante tipo de sotaque, de quem se nota fazer um esforço tremendo para se adaptar á nossa complexa língua mãe, é aquela pronuncia erógena (embora um “Ai Xim, xim, num pairisze, maisze, maisze!...” beirão também terá que se lhe diga!) que faz o predador lusitano esquecer a fauna autóctone e recorrer sistematicamente a serviços pagos em euros. A verdade é que, graças à imigração, temos sido assaltados ao vivo por um novo tipo de mulher, aquele tipo que só julgávamos encontrar nas revistas que nas bancas estão sempre seladas a plástico ou nos calendários da parede da oficina do nosso mecânico. Com a chegada duma nova geração de gajedo estrangeiro, principalmente de leste, o rapazola português passou a ter permanentemente á sua disposição mulherio até então geograficamente inacessível, o tipo de mulher estilo gaja mesmo mesmo boa, muito diferente do produto aproximado, as sazonais nórdicas peles vermelhas, as quais há já muito que nem com os copos íamos. Actualmente não há bar de alterne que não apresente orgulhosamente o seu momento de strip-tease com variadas atracções internacionais, enquanto a esse nível o produto nacional arrasta-se pelos pouco rentáveis mas não menos dignos peep-shows.
É certo que as portuguesas são tão boas ou melhores que as outras. Mas é igualmente certo que o homem português padrão está a muitos suspiros luz dos ideais de beleza masculina que elas anseiam. Não temos a barba por fazer do Viggo Mortenson, os olhos de puto reguila do Tom Cruise, a farta cabelenga do Brad Pitt, a espiritualdiade do Woody Allen ou a conta bancária do Michael Douglas (antes de se casar com a Catherine) e muito menos somos príncipes Albertos. São por estes sucessos de bilheteira que elas suspiram. Delas, o vulgar portuga só recebe indiferença, demonstrações evidentes da máxima antes sós que mal acompanhadas, antes um sonho milionário que uma realidade com caspa ou mau hálito. E não raros são os casos de gajas mesmo mesmo boas portuguesas que conhecem os aeroportos e hotéis de meio mundo melhor que as Docas. A verdade é que a mulher portuguesa boazona e sofisticada (as duas coisas ao mesmo tempo) é cada vez mais inacessível ao comum mortal e ainda por cima teso lusitano. Ao contrário das outras, as boazonas e desanuviadas estrangeiras que se mostram muito mais acessíveis e receptivas a qualquer cartão de crédito, mesmo de baixo plafond.
Qualquer gajo que tenha a má sina de não ter nascido com charme, status, com o cu virado para a política ou para o show-bizz, que não tenha 40 ou 50 anos bem sucedidos e conservados, ou simplesmente não seja sócio dum clube de golfe, não está em condições de açambarcar modelos, actrizes, jornalistas e outras gajas boas topo de gama por enquanto ainda anónimas, que as há por aí aos molhos, à espera de alguém que lhes faça um back spin como deve ser.
O vulgar português se quiser ter acesso à companhia estimulante de uma gaja mesmo mesmo boa, tem mesmo mesmo que pagar ou então dar uns saltinhos ocasionais ao Algarve ou a outras zonas turísticas (Sesimbra, Costa da Caparica, Bairro Alto...) onde felizmente, mesmo em época baixa, ainda abundam estrangeiras sem fins lucrativos em busca do mito do homem latino: “Élou, ai meique colectione ofe neimes ofe biutiful uimines. Uóte ize iour neime darelingue ?”. Esta nunca falha(va)!

terça-feira, janeiro 13, 2004

O Samuel não sabia

"Após um silêncio tão longo, um grito débil, logo abafado. É impossível saber que género de criatura o soltou e continua a soltar, se é que é o mesmo, de longe em longe. Seja como for, não é um ser humano, aqui não há seres humanos, ou, se há, deixaram de gritar. A culpa será de Malone ? Será minha ? Não terá sido apenas uma simples bufa, há-as tão pungentes ?", Beckett, in "O Inominável" (Assírio & Alvim)

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Notícias do Espaço (Deus, patrocinador oficial)

Helena debita a lengalenga do costume para o diário de bordo, uma maquineta muda com luzinhas, como não podia deixar de ser. É o mote para mais um início dum episódio do Espaço: 1999 – 2ª Série.
A Sylvia farta do Gerry Anderson (casal que na vida real produzia o Space 1999) pediu o divórcio e quem se lixaram foram os fãs dos até então 24 episódios (1ª série). Pior sorte tiveram o professor Bergman, Paul, Kano e Dr. Mathias, que perderam o ganha pão, simplesmente desapareceram dos novos episódios sem explicação e jamais será feita uma alusão aqueles heróis (sei lá, por exemplo, o Koening num ataque de nostalgia podia dizer para o barbeiro da base lunar "Hoje faça-me um corte á professor Victor Bergman!"). Dos restantes ilustres, Sandra é agora tratada por "Sahn" e muitas vezes substituída por uma chinesa qualquer, e Alan tem uma presença irregular.
As histórias giram á volta dos casalinhos Koenig e Helena, Tony e Maya. Imaginem o Dallas passado no espaço... É quase. A Dra. Helena deixou o seu habitual ar impassível estando agora mais assanhada. Continuo a conseguir imaginá-la de lingerie e saltos altos, mas vejo-a também com um chicote na mão, o que é assustador e não faz o meu género. A recente aquisição Tony, como o próprio nome indica, é um ciumento com um sotaque estranho, obcecado pela Maya que por sua vez é mulher para deixar todos os extra-terrestres com água ou qualquer liquido similar na(s) boca(s). Os sacanas têm bom gosto. O Koenig, como já não anda mal encaminhado pelo desgadelhado Bergman, agora anda sempre penteadinho com risquinho ao lado.
Mas as alterações não se ficaram por aqui. O novo produtor americano, um tal de Freiberger, mudou a musica e o genérico iniciais e alterou radicalmente o cenário do Centro de Controlo, tornando-o mais claustrofóbico e banal. Elas agora usam saias, eles camisas com gola e casaquinhos.
Felizmente mantiveram-se os realizadores e técnicos, e algumas histórias são muito bem apanhadas, contendo diálogos de antologia, como este entre Koenig e um gajo que se materializa em pleno Centro de Controlo da base lunar Alfa, auto-intitulado de o Criador:
KOENIG: "Quem é você ?"Só uso o bigode assim para agradar a Maya!
(DEUS?):"Sou o vosso Criador."
DR. EVIL: Right!!!!.... (vide "Austin Powers")
(DEUS?):"Tudo bem, não precisam de se ajoelhar para me adorarem."
KOENIG: "Não é esse o nosso estilo."
(DEUS?):"Está a duvidar das minhas credenciais ?"
KOENIG: "Ainda não apresentou nenhumas."
(DEUS?):" Oh, não o censuro. Todos essas mui imaginativas obras de ficção a que vocês chamam de religiões, repletas de falsos deuses, atrofiaram-vos a mente. No entanto, asseguro-vos que eu sou aquilo a que se pode designar por artigo genuíno.”
ESPECTADOR, EU: Sim sim, e eu sou o Napoleão! Espetem-lhe já com um raio laser no focinho!
(DEUS?):"Vocês terrestres sempre foram a mais céptica das minhas criações."
KOENIG: "É a nossa maneira de ser. Já devia saber isso.."
(DEUS?):"Cépticos, cínicos, ruins.... Talvez por isso sempre tive um fraquinho por vocês..."

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Para acabar de vez con el dia dels reys

Apesar de unanimemente celebrados como três gajos ricos e porreiros que ficam sempre bem em qualquer postal de natal ou quadro da Idade Média, acredito seriamente que por detrás do aspecto pachorrento dos reis magos, esconde-se algo de muito pouco nobre.
Os historiadores interrogam-se sobre se realmente teriam existido tais figuras patéticas, e a terem existido, por que raio teriam três majestades de longínquas e mal identificadas paragens que se supõe seriam lá para as bandas do actual Iraque e Irão, o que teria feito três árabes, muçulmanos portanto, deixado os seus ricos haréns, o conforto dos palácios das mil e uma noites, outras tantas odaliscas, por uma longa caminhada de camelo por desertos alheios ? Azia ? Falta de apetite sexual ? Penso que existirão sérias razões para se duvidar daquela espécie de altruismo. Não nos esqueçamos da comprometedora paragenzinha documentada, no palácio de Herodes. Não só pararam para atestar os camelos como também para encher os ouvidos do palhaço anfitrião que lhes terá implorado para que quando descobrissem em que palheiro nascera o messias, lhe viessem logo contar que também lhe queria ficar nas boas graças. Ao que parece, os tipos não bufaram, daí o maluco ter entrado em histeria e mandado matar aquela carrada de putos a torto e a direito. Centenas, talvez milhares de inocentes, sacrificados em nome de um. Deve ser difícil para alguém crescer sabendo disto.
Mas o trio não deu com a língua nos dentes, não se evitando infelizmente o morticínio, porque talvez tivesse ficado convencido de que sortiriam efeito as suas “prendas”. E que prendas levavam aqueles antepassados dos homens bombas dos nosso dias! Analisemos à luz da moderna ciência o que estes três amigos ofereceram ao puto Jesus. Chupetas, fraldas, biberões, bonequinhos da Chicco, leite em pó ?... Nada disso. É certo que também não lhe ofereceram um saquinho cheio de urânio empobrecido, mas terá sido por falta de lembrança ou então um quarto rei mago que por descuido se ficou pelo caminho. Mas o que ia nos alforges daqueles três já bastava para cumprir o objectivo: levar o caos e a destruição á família do velho José. Analisemos as nefastas prendas:
Ouro: Existirá metal mais vil, que mais sangue tenha derramado, maior símbolo do materialismo e da cobiça ? É óbvio que não. De todas as prendas oferecidas pelos três maléficos, esta era de longe a pior e mais perigosa. O reluzente ouro ao menino nada entretia e só nos bolsos dos adultos que o circundavam fazia jeito. José, tutor legal, ter-se-á apropriado do ouro com o qual terá subornado meia dúzia de pastores para que não dissessem quem ali tinha parido, liquidado alguns calotes e... Havia que dar ao cava dali para fora, que já se ouviam zunzuns da façanha do Herodes. O que terá feito José ao resto do ouro não deve ser difícil de adivinhar. Ainda não tinham sido inventadas as slot machines nem o bingo mas já naquele tempo perdições havia capazes de fazer derreter ouro e a evolução do homem era tão lenta que as tentadoras medidas do mulherio de então não era nada diferente das actuais. Que se saiba, apesar do ouro, nunca foi família que experimentasse os prazeres de uma vida desafogada, da vida num condomínio fechado com vista para a faixa de Gaza, e só alguém saberá com quantos bicos de papagaio terá ficado a mãe Maria de tanto viajar no desconforto dum burro, enquanto até o teso do Ben-hur já treinava em carroças com amortecedores. Que se saiba, não consta que em qualquer museu do mundo se encontre exposta uma pulseirinha ou medalhinha que seja em ouro com as inscrições “Recordação dos reis magos”. Talvez os bancos suíços queiram esconder muito mais do que aquilo que se sabe que escondem.
Mirra: “Mas para que raio quer a gente mirra ??!” poderá muito bem ter sido este o pensamento do afamado carpinteiro (consta que naquela noite fria, depois de ter recebido o ouro, José deixou de ir acartar lenha para a fogueira porque pensou que o melhor das oferendas ainda estaria para vir e começou portanto a esfregar as mãos de contentamento; com tanta fricção aqueceu o ambiente). É que naquele tempo, a mirra era utilizada para fazer mumificações e conservar os corpos mortos. Estou em crer que o plano dos 3 lobos muçulmanos vestidos de cordeirinhos, seria o de com o ouro provocar desavenças conjugais, trazer a discórdia á família sagrada, provocar desgraça homicida. Tudo muito bem embrulhado na mirra, ainda hoje estaria em exposição no Museu de Bagdad e muita guerra se tinha evitado.
Incenso: Caso as duas oferendas anteriores não resultassem, esta seria infalível. A desculpa era queimar o incenso para ajudar a purificar o ar, eliminando o odor nauseabundo a estrume e a sovaco que por ali se fazia cheirar. Mas se nos adultos de caixa toráxica feita, algum efeito faz, imagine-se o que fará a uma criança recém-nascida, ainda com poucos litros de ar passados pelos pulmões, respirar tetrahidrocannabinnol... Perguntem a quem quiserem, esta substancia alucinogénica, como o próprio nome inspira, está presente no incenso sim senhor, e naturalmente que os reis magos já o sabiam, sendo mais que certo que fora a ‘negociar’ tal matéria prima que tinham enriquecido. E esta seria a jogada de marketing que precisavam para impulsionar e levar o conceito de negócio aos cinco pontos do mundo, principalmente, à América Latina.
Resumindo, decapitar o cristianismo à nascença, cannabinar o seu profeta, golpe publicitário ou aliciar a mais famosa das virgens para os respectivos haréns, a verdadeira intenção do três reis é algo que jamais saberemos. Mas a celebração do dia 6 de Janeiro, é apenas mais uma dessas celebrações sem sentido à qual só mesmo os Espanhóis ainda lhe dedicam um feriado.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Mundo perfeito #1

Fere a vista ver filas de gente á espera da sua vez para comprar o passe mensal dos transportes colectivos. É um escândalo o trabalhador/explorado ter que despender a custos próprios as despesas de deslocação para o seu local de trabalho/exploração. Já não basta gastar tempo, horas não remuneradas na ida e volta, como ainda ter que pagar para ir trabalhar, um contracenso inumano grave. Em qualquer país civilizado, o transporte público seria á borla, rápido e de conforto superior. O melhor para quem mantém a Máquina a funcionar. E para quem quisesse ir de carro, portagens a preços exorbitantes, aos dias úteis, nas entradas das cidades.

terça-feira, janeiro 06, 2004

Rédea curta

Não há pessoas acima de qualquer lei assim como não deve haver pessoas ou cargos acima de qualquer suspeita. Que se saiba, nos Ministros, Deputados, Presidentes, Reis, Imperadores, Papas, Cardeais, e por aí fora, quando assumem tais responsabilidades, não lhes ocorre qualquer transformação biológica ou molecular, nenhuma alteração neuronal, não ficam imunes às frustrações, aos desejos reprimidos, à natureza humana, à necessidade de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, se necessário. Já o eram antes e, que chatice, continuam a ser homens, como os outros. E como os outros, podem ser suspeitos se tiverem mesmo que ser! Que se saiba, quando se sentam nos respectivos tronos ou cadeirões, não lhes cai do céu um raio se não forem imaculados, dando-nos certeza absoluta da sua ombridade e garantido-lhes inocência vitalícia.
Os lideres dos nossos tempos têm aliás a agravante de serem exímios políticos modernos. Levam uma vida exercida de politiquice, essa perigosa mutação da verdadeira política, feita de trocas de favores, de jogos de bastidores, de lambe-botismo, de facadas nas costas e muito jogo de cintura. É desta matéria prima que é feito o caminho para o sucesso dos nossos lideres, lógica natural para se escalar hierarquicamente, atingir o poleiro, política moderna, progressão na carreira, anos e anos disto. Logo, não podem ser pessoas normais. Foi gente que preferiu passar as noites em reuniões partidárias, até tarde a planear alianças e tramóias, tácticas para conseguir poder sobre outros homens, em vez de estarem em casa a dar mimos á mulher. Gente que preferiu as companhias dos corredores, dos almoços que nunca são de graça, dos encontros secretos com outros iguais ou a abater, em vez de estarem com as amantes ou com os verdadeiros amigos. Não podem ser gente normal porque foram vítimas e carrascos dos esquemas dum sistema falido mas que ajudam a perpetuar. Sabe-se lá que cordelinhos tiveram que mexer, que lodo tiveram de remexer e, alguns, ingerir para estar nos sítios onde estão. Cada político encartado, que história esconde, o que engoliu, o que terá abdicado, sacrificado, o que terá desenvolvido durante a sua ascensão, que efeitos nefastos terão tido sobre a sua personalidade, o contacto próximo, a vivência quotidiana com o miserável mundo da politiquice dos nossos tempos. Há que andar bem em cima deles, apertar-lhes os calos, rédea curta.

sexta-feira, janeiro 02, 2004

Arrependimento de príncipio de ano

Manguito á chinesa!Super-Inframan aka. The Chinese Superman, foi durante muitos anos o filme da minha vida... Devia ter 5 ou 6 quando vi num cinema aquele que terá sido o tetravô dos actuais inenarráveis “Power Rangers”. Fabricado em Hong Kong “INFRAMAN looked like a giant step above Japanese sci-fi B-movies in the mid-70s. It all came down to an exciting masterpiece containing impressive visuals, plus lightning fast action and choreography the Shaw Brothers were known for. Many see this as a rip-off of the POWER RANGERS, but not many have noticed this movie being around for almost 25 years! It's that good considering its age." (É o IMDB quem o diz!) Nada ilustre como filme da minha vida (terá sido mais o filme da minha infância) mas foi o filme que me abriu definitivamente o apetite pelo cinema e aguçou-me o fascínio pela ficção cientifica. E não fui a única vítima.
Está disponível apenas para a zona 3.
Outra relíquia, Lifeforce aka. “As Forças do Universo” (salvo erro), um filme injustamente esquecido de Tobe Hooper (Massacre no Texas, Poltergeist) que passou muito discretamente pelos cinemas nacionais há uns 15 anos atrás. É daqueles que não passa nem na televisão, nem no clube de vídeo, nem nos sites da internet. Simplesmente desaparecido, DVD só zona 1 mas com 15 minutos de filmagens adicionais. Uma história muito bem produzida por italianos, sobre uns vampiros espaciais cujo passatempo preferido era sugar a ‘força da vida’ de toda a gente que iam conhecendo. Numas cenas algo controversas para a época, Mathilda May aparecia toda descascadinha! Inesquecível! O argumento era de Dan O’Bannon (Alien, Tottal Recall).
Arrependo-me profundamente não ter comprado um leitor DVD multizona.

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